O tal do orkut é mesmo danado. É uma espécie de mural para recados. No meu mural tem desde adolescentes a políticos famosos de nossa cidade. Mandou o convite, aceito na hora – boto lá no mural o novo amigo orkutiano. Amizade, mesmo que virtual, é indispensável. E mural, afinal, serve para quê? Para as pessoas dizerem alguma coisa a outras pessoas. Nem que seja um simples – bom dia! Alguns dizem muito com poucas palavras. Outros já precisam de muitas páginas digitadas para, ao cabo, dizerem a mesma coisa – Bom, dia! E há aqueles a quem, ao receberem um cumprimento – como vai? – em vez de responder – vou bem, obrigado – nos seguram para explicações minuciosas de como de fato vão. É o sujeito mala, o tipo gangorra. Aquele que, ao se sentar, todo mundo se levanta. Mas não importa, se prolixo ou conciso, é preciso dizer ao outro, a alguém, o que nos vai na alma. Gosto de citar o Nelson Rodrigues: “As coisas não ditas apodrecem na gente”. Amizade para mim é fundamental. Mas como é difícil fazer e manter amigos! Há, dizem, duas maneiras de ajudar um amigo: removendo os obstáculos de seu caminho ou dando-lhe o que necessita. Só os grandes amigos excedem nos dois tipos de bondade. Mas não é fácil. Quase sempre não nos excedemos. É na relação com o outro que nos afirmamos como indivíduos, que realizamos nossa humanidade. E é também na relação com o outro que descobrimos os abismos que há entre nós. E quando entra dinheiro então? Aí o bicho pega. O abismo se torna intransponível. Amizade, amizade, negócios à parte – diz o varo que não sai das igrejas e dos templos. A caridade cristã, o amor ao próximo, não é lá muito fácil. Só para os pobres de espírito, os bem aventurados de que fala o Evangelho. Ser pobre de espírito é não ser soberbo. É ser humilde, e humildade é o reconhecimento da realidade. Reconhecimento de nossa condição humana, de nossas fragilidades, de nossas imperfeições. Já o amor ao próximo não tem nada dessa idiotice ideológica que ama abstrações em vez de pessoas concretas, aquelas que encontro em minha circunstância (no sentido de Ortega Y Gasset e de S. Lucas 10, 29-37). Isso me faz lembrar uma historinha sobre o ator Henry Fonda e sua filha Jane em que, a certa altura de uma conversa, ele diz: “Mas, minha filha, se você não consegue amar seu pai, como conseguirá amar a humanidade?” Jane Fonda era então uma jovem artista, ativista, favorável aos comunistas vietcongs, na década de sessenta. Lindíssima, gostosíssima a Jane, porém, imbecil. Deixando de lado a metafísica e a Jane Fonda, não é que recebi um convite para integrar a comunidade orkutiana Eduardo César NUNCA MAIS. Não aceitei. Embora condene o xará prefeito por ter arrancado a amendoeira lá do Cruzeiro (tem coisas, minha gente, cujo valor simbólico vale mais do que qualquer urbanização), não topei o convite. Posso até não concordar com os que afirmam que ele ainda não começou a governar, que poderá fazê-lo nos próximos 700 dias. Sejamos otimistas. Agora, o tal do NEVER MORE é demais. Lançá-lo ao mármore do inferno, isso não! Acredito que as pessoas, com boa vontade e o auxílio da razão, podem se superar, reencontrar o caminho verdadeiro, sair da selva tenebrosa e, quem sabe, rever estrelas. Façamos amigos.
Nota do Editor: Eduardo Antonio de Souza Netto [1952 - 2012], caiçara, prosador (nas horas vácuas) de Ubatuba, para Ubatuba et orbi.
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