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Ano 1 - Nº 12 - Ubatuba, 13 de Setembro de 1998
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Náutica

· Não dá mais para suportar
    Ricardo Faria
    holy@ubaweb.com

Capa do Jornal Folha de Niterói

O incidente que envolveu o iatista Lars Grael e lhe proporcionou a perda da perna esquerda, em Vitória no ES, pelo que tudo indica não pode ser considerado um acidente. Muito pelo contrário, o que nos chega pelos veículos de comunicações cada vez mais nos convence da existência de um crime.
Não é verídica a existência de rixa entre velejadores e lancheiros. Ocorre que alguns quando no comando de uma embarcação a motor realmente abusam da velocidade, pilotam embriagados e desrespeitam a Lei. Para eles simplesmente tudo é farra. Em terra o seu comportamento não é muito diferente. É só lembrar da turminha de pés de chinelo, de Brasília, que incendiou o coitado do índio que dormia no chão, um crime hediondo. E o médico que ateou fogo no estudante de medicina? Foi só brincadeirinha? Com a palavra a Justiça do país.
Quanto a Lars Grael quem perde é esse Brasil que um dia há de se tornar varonil. O esportista, o gente fina, o organizador de eventos, o campeão, uma personalidade acaba de ter uma das pernas decepada pelo hélice da lancha Laguna 1, comandada por Carlos Guilherme de Abreu e Lima que se diz empresário e que teria deixado o comando do barco, em alta velocidade, para se comunicar pelo rádio com o Iate Clube de Vitória. Acredite quem quiser. O exame de dosagem alcoólica feito em Abreu e Lima revelou-se positivo e testemunhas ouvidas pela Capitania dos Portos de Vitória confirmaram a presença de uma moça chamada Raquel na lancha, e que seria ela realmente quem estaria pilotando. A família do Guilherme pelo que se sabe até agora se recusa a apresentar a cidadã. Pelo visto tentam tampar o sol com a peneira.
Numa tentativa de tumultuar o caso o pai do Guilherme, que também se intitula empresário, Carlos Guilherme Lima alegou inicialmente tratar-se simplesmente de um acidente e que o filho não havia percebido o veleiro, um Tornado facilmente identificável a 200 metros. E foi além: insinuou que Lars Grael "e demais atletas e medalhistas olímpicos utilizam o doping no esporte." No dia 10 de agosto o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman emitiu nota com profunda indignação afirmando que os advogados do COB entrarão com ação judicial reparatória. Ou seja, pai e filho levados as barras dos tribunais.
O que se tem conhecimento é que Lars estava na área reservada à raia da regata que lá aconteceria. E qualquer navegador habilitado, em estado normal, teria avistado o veleiro, principalmente por se tratar de dia claro. Todo condutor habilitado de embarcação a motor sabe que os barcos a vela sempre têm prioridade, em quaisquer circunstâncias.
O inquérito administrativo aberto pela Capitania dos Portos do Espírito Santo para apurar as causas e os responsáveis pelo incidente que resultou na amputação da perna de Lars Grael será encaminhado ao Tribunal Marítimo do Rio de Janeiro que não possui poder punitivo e apenas julgará o mérito da questão. "O resultado da investigação tem valor probatório, de acordo com o artigo 18 da Lei 2.180, de 5 de fevereiro de 1954. E isso representa uma força muito grande na área cível onde a família Grael buscará uma indenização", afirmou o advogado Otávio Gomes, especialista em direito marítimo.
Enquanto isso, Grael continua internado no Hospital Albert Eistein, em São Paulo, sobreviverá. E como é do estilo dos campeões, brevemente estará nas regatas. Embora não haja modelo ideal de prótese para velejar, o campeão haverá de encontrar uma fórmula. Disso, nós do Planeta Água, não temos a menor dúvida e estaremos ao seu lado para ajudá-lo.
Ildefonso Witoslawski Jr. e Torbem Grael na 25ª Semana de Vela de Ilhabela - Foto: Ricardo Faria
O iatista campeão Ildefonso Witoslawski Jr., Florianópolis, SC, comandante do veleiro Gosto d'água - Plastkolor comentou conosco: "é uma barbaridade o que aconteceu com o Lars. Não dá para acreditar que uma lancha possa invadir uma raia de competição, atropelar um veleiro e mutilar um dos seus tripulantes. Registro aqui a solidariedade da comunidade vélica de Santa Catarina ao Lars, ao Torbem, ao Axel e a toda família Grael. Só nos resta aguardar o pronunciamento da Lei com os devidos ressarcimentos materiais e morais."
É preciso lembrar que a impunidade tem que acabar nesse tal de Brasil. Que as pessoas sejam obrigadas a assumir suas falhas através de algo chamado Justiça. Já que por bem, de comum acordo, é normalmente difícil. Em tempo: quando se tratar de filhos de funcionários públicos revestidos de autoridade ou de alguém que se auto intitula empresário deve haver agravamento de pena. É por essas e outras que o cidadão acaba se envergonhando de ser honesto e o país encontra-se nessa fase: do jeito que o diabo gosta.Fim do texto.
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