NOME
Ubatuba, segundo seus historiadores é corruptela da palavra tupi ibatyba, que significa sítio onde abundam ubás, espécie de cana silvestre, ou lugar onde se reúnem muitas canoas; ubá também traduz caniço próprio para flechas, e tuba quer dizer muitas.
INÍCIO
Os índios tupinambás eram os habitantes originais da região. Costumavam construir suas casas em pontos altos, nas margens dos rios, para sua proteção. Alegres, amantes da música e da dança, usavam instrumentos de sopro e percussão, nas freqüentes festas onde utilizavam o cauim (espécie de bebida preparada com a mandioca cozida e fermentada). Excelentes canoeiros, construíam embarcações para o transporte de até 30 pessoas. Viviam em paz com seus vizinhos, os tupiniquins, até a chegada dos exploradores portugueses e franceses, que lutavam para conseguir trabalho escravo entre os indígenas.
Instigados pelos brancos colonizadores, tupinambás e tupiniquins passaram a guerrear, até reconhecerem sua dependência dos estrangeiros. Organizaram, então, uma grande nação guerreira sob o comando de Cunhambebe, formando a Confederação dos Tamoios, para combater os portugueses.
ELEMENTO EUROPEU
Quando da divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias, o território do atual Município de Ubatuba ficou incluído no da Capitania que mais prosperou - a de São Vicente - , doada por D. João III a Martim Afonso de Souza. Até o início do século XVII, a região era habitada pelos tamoios, que ai tinham numerosas e populosas aldeias, entre as quais se destacava a de Iperoig.
Ao que se sabe, o primeiro civilizado a chegar em Ubatuba foi o alemão Hans Staden, que serviu como artilheiro no forte de Bertioga, nas lutas entre portugueses e tamoios. Numa das incursões indígenas, foi Staden aprisionado e levado para Iperoig, onde permaneceu cativo durante vários meses, até que um francês, Guilherme Moner, comandante de um navio ali aportado, o resgatou. Isso aconteceu por volta de 1554, data da fundação de São Paulo. De volta a sua terra, Staden, relata a experiência no livro Duas viagens ao Brasil, documento importantíssimo para a história do país.
Instigados pelos franceses, os tamoios confederados passaram a atacar os portugueses, pondo em risco, entre outros, os incipientes núcleos de colonização: São Vicente e São Paulo.
Os jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta decidiram, então, procurar os indígenas em seu próprio reduto - Iperoig - a fim de tentar uma paz duradoura. Depois de Hans Staden, foram eles os primeiros brancos a visitar importante aldeamento tamoio.
Não confiando nas propostas dos jesuítas, os indígenas mantiveram Anchieta como refém, enquanto Nóbrega voltava a São Paulo, acompanhado de alguns selvagens, para negociar o armistício. Foi durante o cativeiro que Anchieta escreveu, na areia da praia, os 5.732 versos do seu Poema à Virgem. Uma cruz assinala, hoje, o local.
A Paz de Iperoig, como passou à História a pacificação dos tamoios, foi assinada pelos portugueses e os índios em 14 de setembro de 1563. Teve como causa indireta da expulsão dos franceses, a fundação do Rio de Janeiro e conseqüentemente da manutenção da integridade territorial do Brasil.
COLONIZAÇÃO
Por volta de 1600, Iperoig começou a despertar o interesse dos europeus. Nessa ocasião, era governador do Rio de Janeiro, Salvador Corrêa de Sá e Benevides, e a donatária da Capitania de São Vicente a Condessa de Vimieiro. Ali se foi estabelecer, com sua família e aderentes, a mando do governador, o português Jordão Homem Albernaz da Costa (ou de Castro), natural da Ilha Terceira, nos Açores. Havendo construído logo uma capela, sob a invocação de Santa Cruz do Salvador, deve ser considerado o fundador da cidade e município de Ubatuba.
Os primeiros que, em 1610/11, obtiveram sesmarias em território ubatubense foram Gonçalo Correia de Sá, Martins de Sá, Salvador Correia de Sá, Artur de Sá, Belchior Cerqueira, Miguel Pires Isasa, Antônio de Lucena, Inocêncio de Inhatete e Miguel Gonçalves.
A antiga aldeia de Iperoig foi elevada à categoria de Vila em 28 de outubro de 1637, com o nome de Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba.
PARTICIPAÇÃO FRANCESA
A partir de 1870, um acontecimento do Velho Mundo passou a influenciar a vida do município. Antes que deflagrasse a Guerra Franco-Prussiana, dezenas de famílias de nobres franceses transferiram-se com seus cabedais para Ubatuba, onde compraram grandes extensões de terras e organizaram fazendas, entregando-se ao cultivo do café, do fumo, da cana-de-açúcar, de frutas tropicais, de especiarias como a pimenta-do-reino e o cravo-da-índia. Alguns montaram olarias, outros ingressaram na Marinha Imperial. Em Ubatuba, construíram mansões senhoriais e um teatro.
PRIMEIROS ITALIANOS
Em 1874, uma certa Clementina Tavernari, de Concórdia de Modena, regressou do Brasil Imperial, onde era conhecida como Adelina Malavazi, com a incumbência de recrutar cinqüenta famílias de lavradores do norte da Itália. A intenção era fundar, na então província de Santa Catarina, um núcleo colonial que seria denominado Maria Tereza Cristina em homenagem a Sua Majestade a imperatriz, de origem italiana e casada com D. Pedro II. Trata-se do primeiro experimento de colonização italiana no país.
Enrico Secchi o professor que auxiliou como secretário Clementina Tavernari no recrutamento das famílias, acompanhando-as durante a viagem e permanecendo no Brasil, descreve sua chegada ao Rio de Janeiro e outras aventuras, entre elas:
"... na volta ao Rio de Janeiro, Enrico Secchi foi convidado a entender-se com Joaquim Ferreira da Veiga, servidor público e proprietário de uma grande fazenda chamada Picinguaba, no município de Ubatuba, ao norte da então província de São Paulo. Conseguiu a permissão oficial para retirar da hospedaria dos imigrantes cerca de 30 famílias há pouco chegadas da Itália, provenientes de Mántova, e também o transporte para a localidade. Um contrato foi feito com o proprietário, liquidando seus outros negócios e afazeres, dirigiu-se à Ubatuba, saiu recomendado pelo Cônsul Italiano em São Paulo: deve-se ao sobredito Enrico Secchi um elogio por ter mostrado o máximo zelo em seu encargo...
A viagem a Ubatuba, em 1887, foi a bordo do piróscafo Sepitiba, passando pelos portos de Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty. Na chegada, foram recebidos pelo capitão Assunção que retornara do Paraguai, pelo senhor Veiga pai, Carlo Usiglio e grande número de pescadores residentes no local. Os colonos receberam lotes para trabalhar no plano e na montanha. Os dias, semanas, transcorreram na máxima calma, o trabalho se desenvolvia bem nas lavouras começadas.
Eis que uma forte maré inundou a parte plana e as águas entraram nas casas, somente por milagre foi possível salvar a vida de todos. Houve grande pânico e um desânimo tal que boa parte abandonou o local rumo a São Paulo, outros voltaram ao Rio de Janeiro e dali foram despachados pelo Governo Imperial ao núcleo colonial Rodrigo Silva, perto de Barbacena, em Minas Gerais.
Os que ficaram em Ubatuba cultivaram cana cuja colheita perdeu-se por não estarem prontos os alambiques prometidos, o pessoal desanimou. Enrico, a mulher e duas filhas tiveram uma saída de Ubatuba muito sofrida, obrigados a atravessar a pé a Serra do Mar para alcançar o Porto Paraty e daí embarcar num pequeno piróscafo para o Rio de Janeiro."
APOGEU
No final do século passado, que marcou, também, o final do Império, o crescimento de São Paulo agigantou-se.
O Norte do Estado, com o Vale do Paraíba, tornou-se verdadeira potência econômica. E o Sul de Minas, região vizinha, acompanhou esse surto de progresso.
Ubatuba tornou-se o porto exportador por excelência dessa rica região econômica, onde imperava o café. Como porto de grande movimento, era o ponto final, litorâneo, da chamada rota do café, vinda do Sul de Minas e do Vale do Paraíba. Por aí, nesse período áureo de florescimento econômico, entraram mais de 70 mil escravos. Tão intenso era o seu comércio ultramarino que muitos consulados estrangeiros aí se instalaram, para o serviço de vistos. Houve um período em que 600 navios transatlânticos entravam anualmente no Porto. Ubatuba figurava à frente dos municípios de maior renda da Província. Até a primeira máquina de tecelagem do Estado foi importada por Ubatuba para Taubaté.
As ruas fervilhavam de gente da terra, viajantes, negociantes, tropeiros, aventureiros e demais forasteiros; nos solares, as festas e bailes adquiriam quase que o mesmo esplendor e luxo da Corte; no seu teatro, afamadas companhias nacionais e estrangeiras, de passagem para outras cidades portuárias de importância, nele representavam dramas, comédias e até óperas mais em voga; e, também, cultuavam-se as Musas - no célebre Ateneu Ubatubense, que funcionava como escola e centro literário, dispondo de notável biblioteca de mais de 5.000 volumes apresentados em bem impresso catálogo, grande parte dela doada por S. M. Sereníssima, o Imperador Dom Pedro II.
DECLÍNIO
A marcha do café para o Oeste - regiões de Jundiaí e de Campinas - à procura de terras virgens e férteis e a construção das ligações ferroviárias Rio de Janeiro-São Paulo e São Paulo-Santos e do Porto de Santos, fizeram definhar a antiga estrada da rota do café - que do Sul de Minas demandava o Porto de Ubatuba - e, naturalmente o próprio porto e cidade.
A decadência também é atribuída à ordem do Capitão Bernardo José de Lorena, que, intercedendo a favor do porto de Santos, determinou que todas as embarcações em demanda do litoral paulista tocassem em Santos, porto até então abandonado e privado de contados comerciais.
Querendo ainda frear a decadência advinda das transformações econômicas que se haviam operado na Província de São Paulo, os grandes proprietários da região ubatubense (sobretudo os franceses) reconheceram que apenas uma providência poderia salvar o porto, a cidade e, por conseguinte, os seus interesses - um ramal ferroviário que ligasse Ubatuba a Taubaté - , no Vale do Paraíba, e, dali, alcançasse o Sul de Minas Gerais. Só assim Ubatuba conseguiria manter sua posição de porto regional, exportador da produção do Vale do Paraíba e da região Sul-Mineira.
No dia 28 de setembro de 1890, tiveram início as obras de construção. Entretanto, com a falência do Banco de Taubaté, que apoiava o grupo interessado no empreendimento, malogrou-se a iniciativa. As obras, cerca de 80 quilômetros de estrada construída e material ferroviário, foram abandonados.
Alguns anos depois, houve uma tentativa infrutífera de concluir a estrada. Em 1917, novo grupo financeiro pleiteou o privilégio da construção da importante via de comunicação. Como das vezes anteriores, não houve resultados práticos.
RESSURGIMENTO
A partir de 1933, com a abertura de uma estrada de rodagem entre Ubatuba e São Luiz do Paraitinga, aproveitando o velho caminho das tropas, fez com que a Cidade fosse descoberta para o turismo, iniciando-se novo surto de desenvolvimento.
A estrada Caraguatatuba-Ubatuba, aberta em 1954, reduziu consideravelmente o tempo de viagem. Visitantes, encantados com as belezas naturais da região, ali começaram a passar as férias, adquirindo terrenos para construção de suas casas de praia.
A construção da estrada de rodagem Rio-Santos (BR-101), abriu para Ubatuba excelentes perspectivas econômicas, para ao aproveitamento de uma das regiões turísticas mais belas do país.
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