| Hans Staden | Hans Staden veio para o Brasil num navio mercante português, em 1547, depois de uma viagem acidentada e difícil, tanto que a embarcação, fugindo de um temporal violento e se acostando ao litoral brasileiro, colhida pela vaga naufragou nas proximidades de Itanhaém. Staden e seus companheiros, conseguiram salvar-se, penetrando o interior da terra desconhecida. Uma vez salvo, corajoso, Staden procurou a amizade dos portugueses ali estabelecidos, conseguindo o seu intento, tanto que, conhecedores da coragem e ousadia do germânico, os lusos não tiveram dúvidas em entregar-lhe o governo do forte que guarnecia o povoado de Bertioga.
Nesse cargo de tanta responsabilidade, Hans Staden deu logo provas cabais de valor e astúcia, tanto que, com apenas três companheiros, permanecia no posto avançado de um forte pouco seguro, sempre mais em contato com o inimigo selvagem do que com o amigo cristão... Certa manhã, distancia-se do forte em busca de uma caça indispensável para alimento, que pouca era a provisão, e, quando em plena mata, é surpreendido e cercado pelos íncolas Tupinambás, que o ferem, despedaçam-lhe as vestes, pondo-o nú para melhor ferirem-no e ensangüentá-lo, maltratando-o impiedosamente. Levam-no, em seguida, para a taba da tribo, em lugar distante e de marcha penosa, onde havia sete casinholas de palha e a que denominavam Ybatuba. Prisioneiro desses índios ferozes, passou pelos mais atrozes sofrimentos, enfrentado o martírio com inquebrantável fé cristã. Apesar de muito sofrer, tinha a vida respeitada pelo selvagem, acreditando ele que pelo fato de possuir a pele muito alva e basta pilosidade ruiva...
Durante o seu cativeiro na taba tupinambá, viu, um dia, aportarem nestas praias pitorescas, dois navios - um português e outro francês, os quais lhe deram uma vaga esperança de o virem buscar mais tarde. Contudo, vira dois núcleos ambulantes de civilização, chegarem bem perto do seu posto de amargura e depois partirem furando as ondas sem deixarem, sequer, o rastro por onde pudesse, através da imaginação sofredora, vislumbrar o caminho de sua terra. Numa tarde primaveril de 1554, sete anos depois de cativo, aportou nas proximidades do acampamento indígena um navio gaulês, cujo comandante, Guillaume Moner, condoído com a desgraça de Staden, resgata-o aos selvagens e o leva para o continente europeu. No ano de 1555 chega a sua pátria, e aí, na pacífica Alemanha do século XVI, escreve as suas memórias, intitulando-as - "Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil", páginas que são um verdadeiro monumento de fé cristã e de coragem humana.
FONTE | Jetter Sotano em Terceiro Centenário de Ubatuba - Edições do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo - 1938 |
Hans Staden, o famoso etnógrafo da América do Sul, nasceu na Alemanha e veio para o Brasil em 1547, contratado como artilheiro. Foi defendendo o Forte de São Felipe, em Bertioga, que os tupinambás o capturaram.
Trazido para Ubatuba, conviveu com os índios até conseguir ajuda de um navio francês, que o levou de volta à Alemanha. Essa e outras aventuras estão relatadas no livro Duas viagens ao Brasil, editado na Europa, e com mais de 50 edições em vários idiomas. Staden grafou o nome de Ubatuba como "Uwattibi", referindo-se a duas aldeias distintas: uma, em frente à ilha denominada Ipaum-guaçú, nome tupi da Ilha Grande, e a outra, no local onde hoje se encontra Ubatuba, que deve ao alemão a divulgação do seu nome em todo o mundo. Veja alguns trechos do documento de Staden, quando chegou pela primeira vez a Ubatuba, prisioneiro dos índios:
Quando nos aproximamos, vimos uma pequena aldeia de sete choças... Chamavam-na Ubatuba. Dirigimo-nos para uma praia aberta ao mar. Bem perto trabalhavam as mulheres numa cultura de plantas de raízes, que eles chamavam mandioca. Estavam ai muitas delas, que arrancavam raízes e tive que lhes gritar, em sua língua "Aju ne xé peê remiurama", isto é: "Estou chegando eu, vossa comida."... Deixaram-me com as mulheres. Algumas foram à minha frente, outras atrás, dançando e cantando uma canção que, segundo seu costume entoavam aos prisioneiros que tencionavam devorar.
... No interior da caiçara arrojaram-se as mulheres todas sobre mim, dando socos, arrepelando-me a barba, e diziam em sua linguagem: "Xé anama poepika aé!" - "Com esta pancada vingo-me pelo homem que teus amigos nos mataram". ... "Os homens estavam durante este tempo reunidos em uma outra choça. Lá bebiam cauim e cantavam em honra de seus ídolos, chamados Maracá, que são matracas feitas de cabaças, os quais talvez lhes houvessem profetizado que iriam fazer-me prisioneiro. O canto eu ouvia, mas durante meia hora não houve nenhum homem perto de mim, apenas mulheres e crianças."
Canibalismo tupi-guaraní?
| Hans Staden nas mãos dos canibais | He aquí una ilustración extraída del libro del alemán Hans Staden, que por vuelta de 1550 cayó en manos de "canibales" Tupinamba (etnia de Tupi-Guaranies en la actual costa brasileña). El libro de Staden tiene el título: La verdadera historia de las gentes canibales salvajes, desnudas y feroces y está traducido a varios idiomas. Ya la primera edición fue ricamente ilustrada por T. de Bry que no había acompañado a Staden. El gran valor del libro está en que Staden transcribió con bastante precisión un cierto número de frases en tupi-guaraní, por ejemplo nos explica Staden que lo obligaban a saludar a los salvajes diciendo: Ajune che peê remiurãama (ya vengo yo para vuestra comida).
Este grabado muestra a Staden desnudo en medio de mujeres indias (igualmente desnudas y de agradble vista) que bailan en su alrededor y le cortan la barba y las cejas antes de proceder a su preparación culinaria.
|