Os Alpes perderam 10% do gelo em um ano. O Kilimanjaro, os pólos e o Tibete também estão perdendo gelo. Segundo a Nasa, a agência espacial americana, 2005 foi o ano mais quente já registrado, desde que os registros meteorológicos começaram a ser feitos, no final do século 19. E os demais anos mais quentes foram, pela ordem, 1998, 2002, 2003 e 2004, o que indica mais do que uma tendência, indica uma realidade catastrófica. Nos últimos 30 anos, a temperatura da Terra aumentou 0,6 grau Celsius, ante 0,8 nos últimos cem anos. Na Europa, a circulação do Atlântico Norte está 30% mais fraca de 1957 para cá, o que é uma confirmação sombria de previsões realizadas, indicando que o efeito estufa virá a eliminar a chamada corrente do Golfo, mecanismo que impede que o noroeste daquele continente tenha temperaturas árticas no inverno. De acordo com o oceanógrafo Detlef Quadfasel, da Universidade de Hamburgo, Alemanha, na revista "Nature", "isso é algo previsto pelos modelos climáticos, mas que estamos vendo acontecer pela primeira vez". No Brasil, o oeste de Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul enfrentaram em 2005 forte estiagem em diversos municípios, em plena época de chuvas, por dois anos seguidos, causando enormes perdas nas lavouras de milho, soja e feijão, e na produção de leite. Em novembro, mês que tem média histórica de 167,5 mm, caíram apenas 72 mm, e no mês de dezembro, cuja média é de 172,9 mm, caíram 26,9 mm. O ciclone que atacou Santa Catarina foi classificado como o primeiro furacão no País documentado pela própria Organização Meteorológica Mundial. A OMM informou ainda que os desastres climáticos em todo o planeta responderam pela morte de 350 mil pessoas e por prejuízos acima de US$ 200 bilhões no ano passado. 2005, aliás, foi o ano de maior número de tempestades tropicais (26) e de furacões (14), alguns devastadores, como os tsumanis e o Katrina. Dependendo da continuidade das emissões de gases do efeito estufa, a temperatura ao longo deste século 21 poderá subir até quase 4 graus Celsius. No Brasil, pode subir 4 graus na Amazônia, de 2 a 3 graus no Nordeste e 3 graus no Sul. Em nosso país, a propósito, será preciso repensar nossos caminhos, pois não podemos continuar contribuindo com cerca de 4% do total mundial de emissões de gases, o que nos coloca entre os principais emissores, principalmente devido aos desmatamentos, queimadas e mudanças no uso da terra, que representam em conjunto cerca de 75% de nossas emissões. Precisaremos de mudanças radicais nas políticas amazônicas e não poderemos continuar indiferentes ao que vem acontecendo no Pantanal e na Mata Atlântica. Na Mata Atlântica, por sinal, a boa notícia é que já está em curso o programa de reflorestamento CarpeTree, que está ajudando a recompor matas ciliares das bacias hidrográficas de cinco rios e da região, que criamos em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica e outras empresas, ajudando a preservar os 90.438 km2 que restaram dos l milhão e 200 mil km² que foram perdidos com o tempo. Afinal, não é só a saúde do planeta que está em jogo - é também a sobrevivência do próprio ser humano. Nota do Editor: Luís J. Ayllón é vice-presidente para a América Latina da Interface.
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