Testes realizados pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) comprovaram que o brasileiro compra água a preço de peixe. Em parceria com o Instituto de Pesos e Medidas de São Paulo (Ipem-SP), a instituição analisou 12 marcas de peixes congelados, sendo oito da indústria pesqueira e quatro de supermercados. De acordo com o especialista em Alimentos do Idec, Murilo Diversi, 83% das amostras apresentavam um teor de água acima do permitido pela legislação. "Nós usamos 15% de água como limite máximo, considerando a perda de água do próprio animal depois do descongelamento e a perda de água proveniente do glacê, que é uma proteção de gelo legal que serve para proteger o produto", disse. De acordo com Murilo, apenas duas marcas foram aprovadas e as outras 10 foram reprovadas por excesso de água. Das indústrias, foram analisados dois tipos de produtos: filé de merluza e de pescada. Nos supermercados, cação em posta. A rotulagem dos produtos também foi verificada, conforme a portaria 371/97 do Ministério da Agricultura, que define parâmetros para os rótulos dos produtos de origem animal. "Já na rotulagem nós tivemos um equilíbrio nos resultados. Tivemos quatro embalagens cujo rótulo é bom, quatro regular e quatro ruim. Essas quatro ruins são de supermercados, porque eles não tem um rótulo adequado ainda à legislação. Já deveriam ter, porque essa legislação é bem antiga", afirmou. O glacê, uma capa de gelo legalmente utilizada para proteger o peixe, foi outro aspecto testado pelo Instituto. "O mundo inteiro usa essa capa de gelo sobre o peixe para protegê-lo de ressecamento, oxidação etc. Desses resultados percebemos que metade dessas amostras apresentavam uma quantidade de glacê acima do permitido pela legislação". O especialista explica que quando o peixe é completamente descongelado, os resultados mudam. "Isso significa que a metodologia e a legislação para glacê é incompleta, porque só define quanto o fabricante colocou de glacê, mas se no momento do congelamento houve uma falha no processo que acrescentou água - ou então houve fraude -, a metodologia do Inmetro não esclarece para o consumidor quanto o peixe tem de água". O chefe da Divisão de Inspeção de Pescados e Derivados do Ministério da Agricultura, Lúcio Akio Kikuchi, informou que não existem fiscais federais agropecuários para cada empresa registrada no Serviço de Inspeção Federal (SIF). "Temos uma ferramenta chamada APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) que é a mais moderna em termos de garantia de qualidade e de integridade econômica. Fazemos uma auditoria nos sistemas de controle de qualidade das empresas. Essas ferramentas servem para equacionar melhor o número de inspetores que temos por fábrica. Realmente pode acontecer de uma empresa, por má fé ou por algum erro tecnológico, estar fazendo um produto com uma quantidade de água maior do que a permitida. Mas a partir do momento em que detectarmos, vamos tomar todas as providências necessárias para que isso seja coibido", afirmou. Lúcio enfatiza que o Ministério da Agricultura, juntamente com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), instituições de pesquisa e laboratórios oficiais tentam buscar uma metodologia que determine o peso drenado em peixes congelados. "A única metodologia oficialmente reconhecida é a do Inmetro sobre o peso do glacê dos produtos de pescados congelados. Não existe nenhuma metodologia para peso drenado. Já procuramos isso, já fizemos pesquisa, contatos com outros países mas eles utilizam a mesma metodologia do Inmetro. A gente está tentando definir uma metodologia para evitar que essas quantidades de água acima do limite voltem a acontecer". Em fevereiro deste ano, o Idec divulgou testes que também comprovaram o excesso de água em frangos congelados. Para conhecer as marcas que foram reprovadas, visite o site do Idec.
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