Assegurar que as crianças se relacionem com a natureza da primeira infância até a adolescência é essencial para que elas tenham um desenvolvimento saudável e equilibrado. Contudo, o que fazia parte das brincadeiras diárias há um tempo, agora torna-se um raro evento em meio aos inúmeros compromissos familiares - isso sem trazer à tona os impactos da pandemia do coronavírus. Estudos comprovam que o déficit de natureza na vida dos pequenos pode trazer prejuízos físicos, motores, mentais e emocionais. Diante desse cenário, atividades ao ar livre e que conectem meninos e meninas com o meio ambiente passaram a ser recomendação médica. No relatório “Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes”, a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Instituto Alana ressaltam que brincar em áreas verdes e ao ar livre traz uma série de benefícios para uma infância saudável. Entre eles estão melhor imunidade, memória, desenvolvimento neuropsicomotor, sono, capacidades de aprendizado e decisão, sociabilidade, iniciativa, autoconfiança e criatividade. Além disso, brincar e aprender com a natureza ao longo da infância e da adolescência melhora o controle de diabete, asma e obesidade; previne o estresse e melhora sintomas de depressão, ansiedade e déficit de atenção; proporciona bem-estar mental; aumenta níveis de vitamina D; e aperfeiçoa a visão. A recomendação dos especialistas é que pais, pedagogos e pediatras indiquem e proporcionem às crianças ao menos uma hora diária de brincadeiras, aprendizados e convivência em meio à natureza. Deve-se haver um equilíbrio entre as tarefas escolares e o tempo livre, priorizando atividades ao ar livre e em ambientes com árvores, flores, terra e água. Do poder público, a sociedade pediátrica exige que áreas naturais bem mantidas estejam acessíveis a crianças e adolescentes a menos de dois quilômetros de onde vivem. E essa não é uma preocupação local. Movimentos globais têm ganhado força e trazido à tona a necessidade de voltar a conectar as crianças com a natureza. A Children & Nature Network, rede que reúne iniciativas relacionadas a esta causa, conta com mais de 600 membros cadastrados em todos os continentes, como campanhas, clubes de natureza e instituições. Um exemplo é o Green Hour Program, desenvolvido nos Estados Unidos pela Federação Nacional de Vida Selvagem, que oferece recursos para que famílias e instituições de ensino adotem uma hora por dia de atividades na natureza com suas crianças. A proximidade com o meio ambiente e a compreensão sobre a sua importância despertam em todos - adultos e crianças - um senso de pertencimento, que também fortalece a responsabilidade de cada um cuidar do nosso patrimônio natural e protegê-lo. O livre brincar precisa ser incentivado para que meninos e meninas de todas as idades descubram que tudo na natureza pode se tornar um brinquedo ou uma brincadeira. Como pais e mães, também precisamos entender que ralar o joelho e se machucar faz parte do jogo. O cuidado excessivo não pode fazer com que nossos filhos cresçam em redomas e cheios de medos. Para termos uma geração mais consciente dos benefícios que o contato com a natureza traz para a saúde, o bem-estar e a economia, não é necessário percorrer grandes distâncias nem se equipar para uma vida na selva. A natureza está mais perto do que se imagina: no quintal, nas plantas da sacada, na praça do bairro, nas nuvens, na praia, na chuva, em parques da cidade, no ouvir e observar aves. Para trazer a natureza mais perto do nosso dia a dia, basta ativar a imaginação e a criatividade. Isso as crianças têm de sobra. Nota do Editor: Melissa Barbosa é coordenadora de Comunicação Institucional da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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