Ave nativa do Nordeste brasileiro corre risco de extinção e precisa de ajuda da população para sobreviver
Natanael Feitosa - UFC | |
Uma ave pequenina, amarela e parda, típica dos chamados “brejos de altitude”, localizados no estado do Ceará, Pernambuco e Paraíba está em grande perigo. A maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) praticamente desapareceu de seu habitat natural e os pesquisadores buscam agora descobrir seu paradeiro. Para isso, iniciaram o projeto de pesquisa intitulado “Por onde anda a maria-do-nordeste no estado do Ceará?”. O estudo, da Associação Caatinga, da Universidade Federal do Ceará e Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pretende melhor entender a distribuição geográfica e tamanho populacional, além de reavaliar o status de conservação da espécie. Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e o Ministério do Meio Ambiente, a maria-do-nordeste encontra-se hoje ameaçada na categoria “vulnerável”, o que significa que a espécie enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro bem próximo, a menos que as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e reprodução melhorem. De acordo com a bióloga Flávia Guimarães Chaves, doutora em Ecologia e Evolução da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e responsável pelo estudo, as principais ameaças à espécie são a perda de habitat, a degradação do meio ambiente, dificuldade de troca genética e as mudanças climáticas. Segundo a pesquisadora, as mudanças climáticas podem atuar modificando as condições que permitem a existência da ave. “As áreas de ocorrência da ave têm temperaturas mais amenas e precipitações maiores que as áreas ao redor”, explica. A doutora explica que um aumento de temperatura e ausência de chuvas podem colocar em risco a espécie. “Por se encontrarem em áreas isoladas, que são serras distantes umas das outras, e não serem aves migratórias, também é praticamente impossível que haja uma troca genética entre as populações, o que contribui para uma diminuição da variabilidade genética da espécie”, alerta. Desde o início da pesquisa, em setembro do ano passado, até o momento, a ave foi encontrada em 11 municípios dentre os 18 visitados pela equipe. “A princípio, as quatro regiões amostradas seriam Serra de Baturité, Serra de Ibiapina, Serra da Meruoca e Serra de Uruburetama. Infelizmente, a ausência de detecção da espécie nesta última serra impede que ela seja incluída no monitoramento do tamanho populacional. Observando a mata presente no local onde ela foi avistada anos atrás, percebemos que pouco resta”, lamenta a bióloga. Os últimos registros da maria-do-nordeste em Uruburetama datam de 2007. Para Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário (www.fundacaogrupoboticario.org.br), um cenário tão ameaçador para uma espécie é um exemplo claro da necessidade de mais esforços em prol da conservação da biodiversidade brasileira. “A maria-do-Nordeste é apenas uma das diversas espécies altamente prejudicadas pela degradação do meio ambiente. É preciso que haja um trabalho integrado entre diversos atores, como instituições da sociedade civil, governos e população, no sentido de conservar as áreas naturais que ainda restam no nosso país e tentar reverter esse quadro”, completa Nunes. Participação da comunidade De acordo com a responsável pelo projeto, um trabalho de sensibilização e acesso à informação da comunidade local está sendo realizado em parceria com escolas e associações de moradores. “Acreditamos que apenas conseguimos conservar aquilo que conhecemos. A comunidade poderá nos ajudar atuando na diminuição da degradação ambiental e perda de habitat, bem como replantando mudas de espécies vegetais nativas para recuperar algumas áreas degradadas”, explica Chaves.
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