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Meio Ambiente
27/11/2015 - 18h09
Rumo a uma agricultura climaticamente inteligente
Daniel Meyer
 

Céu pedrento é sinal de chuva e vento, diz o ditado popular. Agricultores sempre foram atentos às previsões do tempo, pois, sem os devidos cuidados não sobreviveriam. Porém, o ano de 2015 parece caminhar para o mais caloroso já registrado. O primeiro semestre teve uma temperatura de 0,85ºC acima da média global e foi o mais quente desde 1880, de acordo a agência norte-americana NOAA. Essa tendência está atualmente sendo reforçada pelo fenômeno El Niño – causado pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico. As consequências no Brasil têm sido temperaturas mais elevadas no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste e uma situação de calamidade no sul, causada pelas intensas e constantes chuvas.

Eventos climáticos extremos, secas, tempestades e estações de plantio mais curtas ou longas afetam cada vez mais os nossos sistemas agroalimentares, gerando vulnerabilidades operacionais e riscos. O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) alerta que para garantir a conservação da vida no planeta, da maneira como a conhecemos hoje, é preciso manter o aumento da temperatura abaixo dos 2°C até 2100. A meta exigirá mudanças de hábitos e reduções drásticas de emissões de gases de efeito estufa por parte de vários países e setores.

Este assunto será discutido na 21ª Conferência do Clima (COP 21), organizado pela ONU no início de dezembro desse ano em Paris, reunindo mais de 190 países, incluindo Estados Unidos e China. O Brasil anunciou antecipadamente em setembro que vai reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa até 2030, em relação aos níveis de 2005. Dentro deste contexto, ressaltam-se uma série de desafios do setor agroalimentar brasileiro. A agricultura climaticamente inteligente vai exigir não só novas variedades de sementes, mais resistentes a estresses climáticos, mas também novos hábitos diversificados e sustentáveis como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Igualmente, a redução do desmatamento em todos os biomas, a restauração da vegetação nativa em propriedades rurais com passivo ambiental e a recuperação de pastos degradados será de extrema importância. Reduzir o tempo de abate, maior eficiência tecnológica e melhor aproveitamento de energias renováveis ao longo da cadeia serão da mesma forma ações fundamentais para uma agricultura climaticamente inteligente.

No Brasil, iniciativas como a Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS), Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS), Forest Stewardship Council (FSC), Bonsucro entre outros, têm criado soluções viáveis através da colaboração entre produtores, indústria, bancos e organizações da sociedade civil. Com mais de uma década de implantação incitam critérios de boas práticas agrícolas, como reduções nas emissões de gases de efeito estufa, restauração da vegetação nativa e pastos e a conservação do solo, apoiando indiretamente os programas do governo, como o Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono). Tais tendências colaborativas dentro da cadeia de suprimentos abrem o caminho para uma agricultura climaticamente inteligente e transitável de longo prazo, apoiando o setor agroalimentar brasileiro a se adaptar aos impactos inevitáveis das alterações climáticas e suas políticas subsequentes de remediação.


Nota do Editor: Daniel estudou Ciências Ambientais, com especialização em Políticas Ambientais. Completou seu MBA em Gestão Ambiental pela Universidade de Estocolmo, Suécia. Nos últimos seis anos, tem se comprometido com práticas agrícolas sustentáveis no Brasil, trabalhando com plataformas e esquemas globais de certificação e institutos de pesquisa, incluindo o Instituto Sueco para Alimentos e Biotecnologia (SIK) e o Centro para a Sustentabilidade e o Meio Ambiente Global da Universidade de Wisconsin-Madison, US. Daniel é atualmente gerente de mercado da Associação Internacional de Soja Responsável (RTRS) no Brasil.

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