As noivas mudaram. Nada mais de enxovais organizados e escolhidos pelas mães. As camisolas de cambraia pele-de-ovo (finas e transparentes), os bordados "casinha de abelha", os chinelos de cetim combinando com o penhoir e os jogos de cama engomados foram definitivamente aposentados. Mais práticas, as noivas atuais continuam se preocupando com a roupa que usarão na primeira noite de casadas, mas não fazem mais enxoval: compram estritamente o necessário para a viagem de núpcias e, de preferência, peças que, além de ocuparem pouco espaço na bagagem, dispense o uso do ferro de passar.

Essa transformação no comportamento da noiva moderna é observada pela estilista Marjorie Dawe, proprietária da Hera, loja especializada em lingeries e roupas íntimas, que há 24 anos funciona em Campinas, interior de São Paulo.

Há duas décadas, o enxoval era determinado pela mãe. Era ela quem vinha com a lista e escolhia tanto a camisola-do-dia como a do dia seguinte, que deveriam ser, respectivamente, uma curta e outra longa. "O enxoval era composto de pelo menos cinco camisolas, robes, chinelos, calcinhas, sutiens e acessórios (necessaire, saches, porta-camisola, porta-chinelo, porta-calcinha, porta-sutien etc). Contava ainda com jogos de cama, mesa e banho. Tudo combinando. Era preciso uma mala só para o enxoval da noite de núpcias", exagera Marjorie.

Hoje, segundo a estilista, não existe a menor preocupação em coordenar as peças. O robe praticamente foi abolido. Não existe mais a preocupação de se esconder sob um penhoir. O chinelo, quando incluído no enxoval, deve ser despojado, do tipo das sandálias havaianas, apenas para a saída do banho e nada mais. As noivas atuais compram apenas o básico, pois quer ter sempre uma novidade no armário e não mais aquele tipo de enxoval que ficava guardado no baú. Afinal, a vida tornou-se mais simples e corrida.

As necessaries, em material sintético lavável, fazem às vezes das antigas frasqueiras e, geralmente, têm o tamanho suficiente para acondicionar as peças necessárias. E a combinação de cores das peças escolhidas, hoje, fica limitada a um composé com as tonalidades dos jogos de cama. Se os lençóis são amarelos, por exemplo, a tendência é buscar as tonalidades condizentes, tais como os florais em tons pastéis. Tanto é, que o mercado têxtil apresenta uma gama de tonalidades maravilhosas, permitindo uma variedade de 50 a 60 diferentes cores por coleção Não raro as noivas modernas incluem em seus enxovais uma cueca tipo samba-canção, na mesma tonalidade, para presentear o marido.

Tecidos mais leves

Antigamente, enquanto os jovens viajavam em lua-de-mel, as mães se preocupavam com o quarto do casal. Situação hilária para os dias de hoje. Perfumes, aromas, roupa de cama engomada, penhoir na porta do armário e até um chinelinho de pluma no tapete ao lado da cama.

"Se considerarmos o espaço físico dos apartamentos atuais, que mal possuem armários embutidos, e a praticidade da vida moderna, fica difícil imaginar este tipo de comportamento. É impensável engomar tecidos e passá-los a ferro nas minúsculas áreas de serviço. Apesar do conforto do percal 100%, muitas já o trocaram pela malha de algodão que pode ir do varal direto para a cama", explica Marjorie.

A noiva quer estar bela, mas confortável. Por isso, optam por tecidos de textura agradável ao tato, como foi com o caso da seda mista que invadiu as prateleiras há 10 anos, quando este tipo de tecido infestou o mercado nacional. A seda mista está ultrapassada porque além de amassar, amarrotar e desfiar, é um tecido quente para o nosso clima. Já a seda pura tem custo inatingível para a grande maioria dos consumidores.

"O que chega para suprir esse mercado são as texturas novas de liganete e microsoft e os tecidos especiais que incluem hidratante nas suas composições. Esses tecidos são leves, não amarrotam, são práticos para lavar e secar, dispensam o uso do ferro de passar e representam um volume mínimo na bagagem. Sem contar o caimento perfeito", exemplifica.

Romantismo

Apesar do termo fast (rápido) ter se tornado usual em todos os níveis e a praticidade prevalecer em quase todas as decisões, a explosão de modernidade não acabou com o romantismo. Mesmo que o branco de antigamente não seja mais a cor preferida das noivas para as roupas íntimas, os tons claros ainda predominam suas escolhas. Modelos que incluem detalhes em crochê também têm bastante aceitação. Preto e vermelho, quase nunca.

Pensando também nas noivas grávidas ou naquelas que, pelos padrões estéticos impostos pela sociedade, precisam de tamanhos especiais, a Hera inclui do P ao GG em suas coleções. "Nos preocupamos com as mulheres discriminadas pelo mercado porque suas medidas passaram do 44. Para nós, isso não existe. Não trabalhamos para top models. Procuramos atender as necessidades de qualquer mulher, independentemente do tamanho ou idade. Todas têm beleza própria e merecem ser valorizadas", diz.

Como a opção das noivas é pelo romantismo, o preto, tão usado no dia-a-dia, não são, geralmente, escolhidos para a noite de núpcias. "A mulher deve sempre surpreender. E a lingerie é uma grande aliada da mulher, no bom sentido. Principalmente quando o objetivo é amar e ser amada, em vez de simplesmente seduzir. Afinal, este é ainda o verdadeiro sonho de toda mulher", ensina a estilista.