Edson Endrigo | |
O pássaro bicudinho-do-brejo-paulista vivia tranqüilo no cinturão verde da cidade de São Paulo até que, em fevereiro deste ano, ele foi identificado como uma nova espécie do gênero Stymphalornis. Daí em diante, ele não teve mais sossego. Isso porque o habitat da única população até então conhecida seria inundada para a construção da represa Paraitinga, oferecendo um grande risco aos animais. A partir disso, o autor da descoberta, o biólogo Luís Fábio Silveira, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, junto com sua equipe, fez o possível para capturar todos os exemplares que conseguissem e soltá-los em outras áreas que tivessem o mesmo tipo de vegetação, o brejo com taboais (um tipo de vegetação aquática). "Este procedimento, denominado translocação, é pioneiro na América do Sul para passeriformes insetívoros", explica o pesquisador. Como quase não existe literatura sobre este assunto, o procedimento demanda cuidados especiais. "Realizaremos o monitoramento de todas as populações translocadas durante um ano, para assegurar que elas se adaptaram bem aos novos habitats." Silveira comunicou todos os acontecimentos ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), que passaram a acompanhar e apoiar o desenrolar dos procedimentos. No total, foram capturados 72 exemplares do bicudinho-do-brejo-paulista (35 machos e 37 fêmeas), todos já translocados para 12 localidades próximas com ecossistemas muito semelhantes, dando prioridade a áreas protegidas. Silveira conta que a atitude, um tanto drástica, precisou ser tomada porque algumas características da espécie indicavam que a sua população era muito reduzida. "Ela está restrita a um habitat que não é muito comum na região." Paralelamente, outra população da espécie foi localizada pelo também biólogo Dante Buzeetti, na região entre Mogi das Cruzes e Arujá, próxima ao local da descoberta. No entanto, como a área não apresenta riscos imediatos, os animais não precisaram ser translocados. Nova espécie Silveira trabalha agora na descrição formal da nova espécie, para que ela seja definitivamente reconhecida pela comunidade científica. Por não estar cientificamente descrito, o pássaro ainda não possui um nome específico, recebendo a denominação genérica de Stymphalornis sp. nov.. Inicialmente acreditou-se que os exemplares pertenciam à espécie S. acutirostris, conhecida somente como bicudinho-do-brejo, endêmica das baixadas litorâneas do Paraná e Santa Catarina. Com os cuidados para a preservação do animal devidamente tomados, espera-se que a translocação do bicudinho-do-brejo-paulista seja bem sucedida e que a experiência forneça informações valiosas para futuros programas de conservação. A descoberta do pássaro foi oficialmente anunciada nesta quinta-feira, dia 5, pelo Ibama, que pretende colocá-lo na lista nacional de animais ameaçados.
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