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Meio Ambiente
18/02/2015 - 16h12
Revoltas climáticas
Reinaldo Dias
 

Atualmente as mudanças climáticas são um fato indiscutível nos fóruns internacionais. O agravamento das consequências do aquecimento global vem sendo sentido de modo mais acentuado nos últimos anos, por todo o planeta. Além disso, modificam-se ecossistemas que abrigam fauna e flora específica, aumentando as perspectivas de um aceleramento no processo de diminuição da biodiversidade. Este é um fenômeno global, com consequências regionais e locais, que está se disseminando por todo o mundo.

No Brasil, as manifestações das mudanças climáticas se tornam especialmente graves pela abundância de determinados fatores como a água doce e solo cultivável. No entanto, a falta de planejamento e de gestão adequada dos recursos está fazendo com que a população brasileira em diversas áreas se vê enfrentando situações ambientais extremas, ano após ano.

A atual crise está relacionada à falta de água nos grandes centros urbanos, que devido à alta concentração populacional representa um potencial explosivo do ponto de vista social.

Numa época em que a maioria da população desfruta há tempos, das condições básicas de sobrevivência, tendo incorporado em seu cotidiano os benefícios da água limpa e tratada, a interrupção do acesso a esse bem de consumo tende a trazer uma reação emocional intensa.

Esta situação pode levar multidões a se mobilizarem espontaneamente sem uma liderança identificada, em manifestações que podem gerar situações de violência incontroláveis. A água poderá ser um catalisador de um quadro de insatisfação geral que vai crescendo, com a corrupção, as demissões em massa, o aumento dos impostos, da gasolina, dos alimentos, dos preços de modo geral, entre outros problemas socioeconômicos que são facilmente previsíveis de ocorrerem ao longo deste ano.

Ora, os desdobramentos da atual situação indicam que a intranquilidade social se expressará com mais intensidade em manifestações de rua e tendo como foco as administrações públicas e instâncias políticas como Câmaras de Vereadores. Uma amostra do que poderá ocorrer, foi o que aconteceu no ano passado em Itu/SP, onde o desespero levou às ruas milhares de pessoas sem articulação com qualquer movimento político, estavam simplesmente manifestando sua indignação. A multiplicação desse quadro para as grandes cidades, associado a outros fatores, como os de ordem econômica pode desencadear em uma situação explosiva que nenhum governo quer enfrentar.

Esse cenário de mobilizações e revoltas indignadas contra o poder público incapaz de atender as necessidades básicas de uma população que já estava acostumada a tê-las aponta para o início de um processo histórico diretamente ligado ao aquecimento global e às mudanças climáticas decorrentes, onde as revoltas climáticas terão um papel de destaque.

A questão central é que a atual situação foi causada pelos seres humanos e a reversão desse quadro pode ser feita pelos próprios causadores, ou seja, todos nós. Ocorre que para se chegar a uma condição, onde todos participam do processo de controle ambiental, há necessidade da intervenção direta do poder público. Para tanto é necessário ampliar seus canais de comunicação com a população e fundamentalmente, executar programas de educação ambiental em todos os níveis de ensino e para a população de modo geral, com extrema seriedade e comprometer-se com a elevação da participação popular no monitoramento das ações públicas voltadas para uma melhoria da gestão dos recursos ambientais.

Na verdade o encaminhamento da solução não é complicado embora exija determinação do poder público. A dificuldade pode estar na incompetência ou na crença de que tudo se resolverá por si mesmo, como no caso da água e da energia, em que várias autoridades dizem que basta chover, pois sempre foi assim. Não sabem os tolos que o mundo mudou e está em processo acelerado de mais mudanças. Essa triste situação, infelizmente, custará muitas vidas, caso não enfrentem a realidade escancarada às suas portas.


Nota do Editor: Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas, mestre em Ciência Política e doutor em Ciências Sociais pela Unicamp.

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