Em relação aos gases provenientes da disposição do lixo, o metano é o componente mais problemático devido a sua elevada concentração (em torno de 300.000 vezes maior que a encontrada na atmosfera) exigindo técnicas sanitárias e ambientais apropriadas de controle. A concentração de metano superior a 5% é explosiva. O metano é o segundo elemento causador do efeito-estufa na atmosfera. O uso de incineração produz fuligem e gases. Esta fumaça provoca muitos problemas alérgicos na população, principalmente entre as crianças. Em termos ambientais a queima do lixo destrói todas as propriedades coloidais e outras que são benéficas ao condicionamento dos resíduos nos solos. A queima de plásticos e isopor emite gases que poluem a atmosfera causando doenças e contribuindo para o efeito estufa. A falta de coleta pública leva as populações também a enterrarem o lixo. O lixo é também o ambiente perfeito para a proliferação de doenças. Quando disposto no solo sem nenhum tratamento, o lixo atrai dois grandes grupos de seres vivos: os macro-vetores e os micro-vetores. Fazem parte do grupo dos macro-vetores as moscas, baratas, ratos, porcos, cachorros, urubus. O grupo dos micro-vetores como as bactérias, os fungos e vírus são considerados de grande importância epidemiológica por serem patogênicos isto é, causadores de doenças e nocivos ao homem. Estes vetores são causadores de uma série de moléstias como diarreias infecciosas, amebíase, febre tifóide, malária, febre amarela, cólera, tifo, leptospirose, males respiratórios, infecções e alergias, encontrando no lixo um dos grandes responsáveis pela sua disseminação. A leishmaniose, considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das doenças infecciosas mais perigosas, vê a sua transmissão favorecida pelo acúmulo de lixo nos terrenos baldios e lixões que são locais extremamente favoráveis à reprodução e desenvolvimento do mosquito transmissor. Outra enfermidade bastante conhecida dos brasileiros é a dengue. Transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti, a doença pode levar à morte. As larvas reproduzem-se principalmente em pneus velhos, vasos de plantas, garrafas e outros locais onde a água da chuva fica acumulada. O sistema de coleta de lixo deve ser visto como uma medida preventiva, pois impede o acúmulo desses tipos de materiais próximos a população. Uma das principais conclusões assumidas a nível internacional é a recomendação de se investir em uma mudança de mentalidade e valores, sensibilizando as populações para a necessidade de se utilizar novos pontos de vista e novas posturas diante dos dilemas referentes à degradação ambiental. Resolver o problema dos resíduos sólidos pode significar muito menor demanda por serviços de saúde. A OMS estima que para cada dólar investido no saneamento básico, do qual a gestão de resíduos sólidos é um dos principais itens, mas não o único, podem ser economizados 4 dólares na gestão dos serviços de saúde. A proposta de trabalho em gestão de resíduos sólidos de qualquer natureza em geral, envolve as seguintes fases de desenvolvimento (NAIME, 2005): 1) Elaboração de diagnóstico detalhado de pontos de geração de resíduos na organização; neste momento é bom definir os critérios de segregação. Somente devem ser segregados resíduos cujo VOLUME, PREÇO e TECNOLOGIA DE RECICLAGEM OU REUTILIZAÇÃO, justifiquem plenamente esta medida. Não adianta mandar separar algum resíduo de geração pequena, ou de preço não compensador, ou que ainda não disponha de tecnologia para reutilização ou reciclagem. Neste caso programas caem em descrédito junto aos colaboradores e não há sensibilização, treinamento ou repressão capazes de alterar esta realidade. 2) Elaboração de estudo descritivo individual de cada resíduo gerado, descrevendo composição, quantidades geradas, possibilidades de reutilização ou reciclagem tecnológicas e viabilidade econômica; 3) Definição dos materiais que devem sofrer coleta seletiva por setor e dos materiais que não são viáveis em quantidade, tecnologia ou preço para serem submetidos a este processo e devem ser remetidos a aterros sanitários industriais ou não; 4) Definição das formas de armazenamento setoriais e do transporte e acondicionamento internos e armazenamento temporário em local inacessível a colaboradores inabilitados e protegido de intempéries; 5) Elaboração de Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) por setor da organização; 6) Montagem de estrutura capaz de administrar e emitir Manifestos de Transportes de Resíduos (MTRs) e/ou notas fiscais de venda ou doação conforme o caso e realização de beneficiamento sobre resíduos que serão remetidos para reutilização, reciclagem ou destinação final; 7) Elaboração de pesquisa sobre o nível de conhecimento e percepção ambiental dos colaboradores da fábrica para planejamento de programa de treinamento permanente para gestão de resíduos sólidos; O gerenciamento integrado dos resíduos sólidos deve objetivar a máxima redução na produção, o máximo de reaproveitamento e reciclagem para produzir inserção social, geração de emprego e renda e economia de matérias primas naturais, água e energia, com a disposição final mais adequada possível para otimizar a preservação ambiental, dentro de um contexto de universalidade e qualidade dos serviços. Isto implica no envolvimento formal de todos os atores sociais envolvidos: associações de bairro, cooperativas de catadores, empresas, poder público, concessionários e demais partes interessadas. A gestão integrada dos resíduos sólidos passa por uma concertação social que implica num alto índice de governança, atitude que supera governos legalmente constituídos, transcende a mandatos e supera restrições. Materiais recicláveis como papel, metal, plásticos e vidros tem que ser reciclados e reaproveitados. Para isto é obrigatória a implantação de programas de coleta seletiva. Esta é a dimensão que gera economia de matérias-primas, água e energia e gera inclusão social, com produção de ocupação e renda a segmentos mais necessitados. Tudo isto deve ser projetado objetivando obter sustentabilidade nas dimensões econômica, social e ambiental. Nota do Editor: Dr. Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. Fonte: Portal EcoDebate (www.ecodebate.com.br)
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