No início do mês de março deste ano, mais precisamente no dia 11, a costa nordeste do Japão foi acometida por um terremoto de 9 graus de magnitude, que provocou um tsunami com ondas de mais de sete metros. Os fenômenos naturais ocasionaram a destruição das províncias de Iwate, Miyagi e Fukushima e deixaram milhares de mortos e desabrigados. Não bastasse a tragédia natural, o país iniciou uma crise energética de natureza nuclear. Acostumados que são a superar catástrofes e surpreender o mundo, os japoneses iniciaram a reconstrução de algumas das regiões devastadas pouco tempo após as tragédias e impressionaram as fotos divulgadas da estrada que liga Tóquio à Naka, na província de Ibaraki. Somente em seis dias, conforme informações publicadas, a rodovia foi totalmente refeita sem deixar vestígios de destruição no local. A medida expôs para o restante do mundo a resiliência de um povo marcado pelo recomeço – basta lembrar os efeitos da Segunda Guerra Mundial sobre o Japão. Diante desse exemplo, devíamos olhar cuidadosamente para as possibilidades que temos no Brasil, um país verdadeiramente “abençoado por Deus”. Não há como negar que dispomos de condições climáticas e ambientais privilegiadas, e alcançamos equilíbrio econômico, com controle da inflação, crescimento de renda da população e mobilidade social. Somente esses fatores permitem alcançarmos, efetivamente, status de País de primeiro mundo. Mas como ainda carregamos o espírito leniente de Macunaíma, personagem da obra-prima de Mário de Andrade, tendemos a deixar para depois o que demanda mais esforço. Porém, já esperamos demais e algumas medidas são urgentes, como o controle do uso da água. Na cidade de São Paulo, o consumo diário per capita oscila entre 200 a 210 litros, enquanto que na Alemanha varia de 90 a 110 litros. Nos condomínios residenciais, a água ocupa a segunda colocação na lista de despesas, seguida dos gastos com energia elétrica. Se os edifícios individualizassem os hidrômetros, a conta a ser rateada pelos moradores poderia ter redução de 35%. Entretanto, essa mudança depende da concordância de todos os condôminos, o que é difícil de obter, em razão do individualismo, que nos leva a preferir a divisão da irresponsabilidade. Datas como o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março, ainda são evocadas com altas doses de romantismo. Mas se não mudarmos nossos hábitos, com pensamentos e atitudes coletivos, não será possível deixar para as futuras gerações um mundo, se não melhor, pelo menos igual ao de hoje. Sustentabilidade, que virou palavra de ordem, não deve ser exclusivamente apoio a iniciativas de marketing. Afinal, mesmo o Brasil detendo 13% das reservas de água doce do Planeta, que são de apenas 3%, já sofremos as consequências dos abusos. Somos reféns dos efeitos do aquecimento global, do buraco da camada de ozônio e do efeito estufa, que resultam de um entendimento global, dominante ainda na cabeça de muitos, de que os recursos naturais eram infinitos e que não haveria problemas em utilizá-los livremente. Mas não há fórmula pronta para remediar a irresponsabilidade passada e mudar algumas doutrinas equivocadas. A única saída é preservar o meio ambiente que temos, a fim de garantir a sobrevivência do homem e manter suas condições socioeconômicas. Não há como continuar roubando “vida” de nossos filhos e netos. O setor imobiliário há muito tem estudado o tema e proporcionado debates a fim de encontrar verdadeiras práticas de sustentabilidade e implantá-las nos empreendimentos. Mesmo submetidos a legislações ambientais rigorosas, muitas vezes em desacordo com a realidade cotidiana, os empreendedores se empenham em proporcionar conforto, funcionalidade, segurança e qualidade de vida aos condôminos. Mas ainda muitos ambientalistas e representantes de organizações não-governamentais são contra o adensamento inteligente e condenam o uso de potencial adicional construtivo, alegando, dentre vários argumentos, que a cidade precisa “respirar”. O que eles desconhecem é que os condomínios horizontais e verticais de todo o Brasil são obrigados a oferecer amplas áreas verdes, diferentemente de muitas residências antigas, que são completamente impermeabilizadas e colaboram com o agravamento das enchentes. Habitações sustentáveis, com respeito às legislações – pois defendemos acirradamente a segurança jurídica –, e disseminação de cultura acerca da preservação consciente do meio ambiente, da dignidade humana e da qualidade de vida continuarão a fazer parte da agenda positiva do setor da construção civil e imobiliária de todo o País. Afinal, qualidade humana requer esforço e parceria e o momento atual é de união e convergência. Tomemos por exemplo o Japão e seus ensinamentos. Nota do Editor: João Crestana é presidente do Secovi-SP e da Comissão Nacional da Indústria Imobiliária da CBIC.
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