As águas superficiais são representadas pelas drenagens e rios que coletam as águas das chuvas que não se infiltram e não evaporam. As águas das chuvas também são conhecidas como águas freáticas. Em hidrologia, a ciência que estuda as águas superficiais, é bem conhecida a equação denominada balanço hídrico. Esta contabilidade representa a quantidade de chuva de uma determinada região, que após descontar as águas que sofrem infiltração nos solos e evapotranspiração, representa a disponibilidade de águas de uma bacia hidrográfica. As águas que sofrem escoamento superficial, denominado “run off”, e que acabam em drenagens e rios, representam as reservas hídricas superficiais disponíveis. As águas superficiais das bacias hidrográficas são gerenciadas atualmente pelos comitês de bacias hidrográficas e se destinam prioritariamente às necessidades de consumo humano, servindo posteriormente, para as atividades agrícolas e industriais. Conforme as características físicas dos solos e rochas do substrato que compõe a bacia hidrográfica considerada, temos a interação entre os rios e os lençóis freáticos ou subterrâneos adjacentes. Considerando principalmente a variável permeabilidade, que é a capacidade das águas de migrarem em um determinado meio físico e medida em cm/s, temos o estabelecimento dos regimes fluviais. Em geral, na estação de baixa pluviosidade, as águas migram dos rios para o interior dos solos e das rochas, caracterizando um regime denominado de influente, dependendo das demais variáveis, evidentemente. Nas estações de alta pluviosidade, as águas tendem a realimentar os rios a partir dos solos e rochas, constituindo o denominado regime efluente. Este fenômeno, muito evidente, explica porque a poluição dos continentes atinge os rios, e a poluição dos mananciais hídricos atinge os lençóis freáticos (de águas das chuvas) ou subterrâneos (de águas acumuladas nas rochas em profundidades). Este fenômeno comprova mais uma vez, a complexidade e a inter-relação de todas as variáveis dos meio físico, biológico e antrópico que formam o meio ambiente. A água, com suas características de solvente universal é o grande promotor da disseminação da poluição, através de ocorrências conhecidas como plumas de contaminação. Agora é fácil entender que não se despolui um rio, sem controlar a poluição no continente e vice-versa. Na despoluição do rio Tamisa na Inglaterra e no Sena em Paris, a idéia não é tratar a água do rio, isto é impossível, tirar a água dos rios, tratar e colocar de volta. Os objetivos foram de tratar todos os esgotos domésticos e efluentes industriais, antes de fazer as águas retornarem aos sistemas hídricos superficiais. Assim, sem receber mais cargas poluidoras juntamente com águas servidas, os rios sofreram recuperação natural e a qualidade das águas melhorou muito. E com esta melhora pode se afirmar que houve melhoria da qualidade de vida das populações afetadas. Este é o princípio que deve nortear toda recuperação de drenagens superficiais, tratar as águas tanto domésticas quanto industriais, para que não carreguem mais cargas poluidoras para o interior dos cursos de água. Dar destinação adequada aos resíduos sólidos, tanto domésticos quanto industriais para que não mais poluam as águas dos continentes, porque é nítido entender que os lençóis aqüíferos estão inter-relacionados. Nota do Editor: Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo - RS.
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