As letras vieram me fazer companhia. Recebi todas elas, de A a Z, com um largo sorriso. Papéis e caneta as aguardavam. Pedi que me ajudassem, que soprassem algo em meus ouvidos já que queria escrever um texto. Algo que fosse leve, que soasse bem, que fosse agradável e interessante. Tentei durante algum tempo, mas nada acontecia. As vogais não entravam em acordo com as consoantes. Tudo ficava misturado e nada coerente surgia. Palavras não se formavam. Pedi que se acalmassem, que entrassem em um acordo, em vão. Saíram porta afora, desarvoradas, dizendo que seria melhor outra hora. Que as recebesse outro dia, em um outro momento. Bateram a porta e me deixaram de mãos vazias. Ainda estou aqui com as folhas em branco e as canetas olhando para mim. As palavras não queriam ser domesticadas. Desejavam liberdade.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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