Quando um turista decide vir para Ilhabela, o que ele espera encontrar aqui? São apenas duas coisas: boas praias e belas paisagens. O leitor pode ter pensado em bons restaurantes, bons hotéis, baladas, um centro turístico com boas opções de compras e lazer, preços justos e várias outras coisas que costumam fazer parte de um turismo interessante, organizado e eficiente. Mas se pensarmos por um instante nesses itens todos e ordená-los numa lista conforme sua hierarquia na cabeça de um turista, logo veremos o óbvio: o que um turista realmente quer é aquilo que é típico do lugar que ele visita. E veremos, em seguida, que quem vem para o arquipélago não busca bons hotéis e restaurantes, busca mesmo boas praias e belas paisagens. O turista que vem para Ilhabela não busca a alta gastronomia ou o conforto cinco estrelas típicos das metrópoles. Ele busca a simplicidade de um lugar que há poucas décadas era completamente inacessível. Como eu sei disso? Por um motivo bem simples, uma regra universal que não se limita apenas ao turismo: só vale a pena deslocar-se até um lugar se o seu objetivo é encontrar o que só existe nele. É isto — e mais nada — o que efetivamente motiva o turista. Não existe um lugar como a Praia dos Castelhanos em nenhuma outra parte do planeta. O mesmo pode ser dito da Cachoeira da Água Branca, do pôr do sol no sul de Ilhabela, do pico do Baepi e do conjunto artístico e arquitetônico formado pela Igreja Matriz, a Cadeia Antiga e o magnífico Cristo de Gilmar Pinna (repare, aliás, a quantidade de pessoas que tira fotos dessa parte da Vila). O que o turista realmente quer é tomar sol, colocar os pés na areia (limpa, de preferência), tomar banho de mar (limpo, de preferência), percorrer as trilhas no Parque Estadual. O restante é o que torna estas experiências mais confortáveis e agradáveis: petiscos a beira-mar, um jipe e um condutor bilíngue, um almoço saboroso e bem servido, um banho morno ao fim do dia, um quarto refrigerado etc. Como todo turista terá que dormir e comer nos dias que passará em Ilhabela, é natural que ele busque um bom restaurante e um bom hotel, com bons preços e bom atendimento. Mas, mesmo que nada disso existisse, ainda assim o turista viria: foi exatamente isso que aconteceu há cerca de quarenta anos, época em que se podia contar nos dedos os restaurantes e hotéis de Ilhabela. O que o turista quer mesmo é deleitar-se com o que o arquipélago genuinamente tem a oferecer. Portanto, acordem. Embora sempre bem-vindos, os eventos promovidos pela Prefeitura ou pela iniciativa privada e as reformas urbanas não têm muita importância se comparados com o esgoto que permanentemente desce de alguns córregos e corre para o mar. O plano turístico e econômico mais importante que pode existir para o município é recuperar e manter limpos os rios, córregos, cachoeiras e praias de Ilhabela. Bandeiras vermelhas nas praias são sinal de que o essencial continua sendo ignorado.
Nota do Editor: Christian Rocha vive em Ilhabela, é arquiteto por formação, aikidoka por paixão e escritor por vocação. Seu "saite" é o Christian Rocha.
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