A gente começa economizando dinheiro, economiza o tempo, economiza prazer, economiza presença. Vamos nos acostumando a economizar o que consideramos necessário para passar um momento da vida, mas acabamos automatizados. Internalizamos o hábito e seguimos em frente economizando um sorriso, um abraço, gentileza, pequenos gestos. Economizamos afeto. Nesses tempos em que poupamos tudo para podermos sobreviver alguns anos mais, nos esquecemos de celebrar do trivial ao extraordinário, e economizamos momentos que poderiam render recordações eternas em nossa memória. Existem aplicações que são fundamentais. Há quem acredite que a alegria é um rendimento que só pode ser usufruído em ocasiões muito raras. Mas esse sentimento pode ser multiplicado, dividido, adicionado. Só não deve ser subtraído do cotidiano. Tem gente economizando contato, encontro, aperto de mão. Deixaram de ser táteis. Alguns estão hiper-conectados. A teia que nos faz economizar certos esforços e deve ampliar nossas possibilidades muitas vezes é uma armadilha criada por nós. Economizamos relações duradouras e priorizamos o superficial. Economizamos palavras, valores, profundidade. Salve-se quem puder, quem não falir com tanta pressão, quem não se fragmentar com a escassez e os excessos que a economia insana poderá causar.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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