Prolongar a vida útil da madeira através da adoção de técnicas de tratamento significa reduzir a necessidade de cortar novas árvores
Hoje em dia cada árvore tem a sua importância. Nossas florestas sempre foram solicitadas a suprir crescentes demandas pela indústria da transformação em resposta às necessidades da população. Na construção, na indústria moveleira ou de embalagens, na obtenção de matéria prima para a fabricação de papel, na produção de carvão e para inúmeras outras finalidades, as árvores sempre estão presentes como fonte de matéria prima. A madeira é vital como recurso natural renovável para as gerações futuras, o que nos leva a concluir que as florestas existentes têm de ser adequadamente manejadas. Afinal, existem poucos substitutos para a madeira, talvez o mais versátil dos materiais de engenharia existente, além de econômico, disponível, resistente e de fácil trabalhabilidade. Uma das maneiras mais eficazes de contribuir com a conservação de nossas florestas é a colheita racional, e a certeza da durabilidade da madeira quando em uso. Prolongar a vida útil da madeira em serviço através da adoção de técnicas adequadas de tratamento significa reduzir a necessidade de cortar novas árvores, sejam de florestas nativas ou cultivadas. Madeira tratada ajuda a conservar nossas florestas, pela simples redução da demanda, uma vez que assegura maior durabilidade em situações, a qual pode ocorrer à deterioração, em especial por fungos ou insetos, como cupins e brocas. Como exemplo no Canadá, levantamentos indicam que a utilização de madeiras destinadas ao uso externo, em especial em sistemas construtivos, contribui para a conservação de uma área de aproximadamente 5,5 mil km² todo ano, um quarto da área de Estado de Sergipe, simplesmente pelo prolongamento da vida útil das madeiras em uso. No Brasil são muito escassos, senão inexistentes, estudos de desempenho de peças em condições reais de serviço. Contudo, vale a menção de que no Canadá, estruturas de sustentação de pontes ferroviárias construídas com madeiras tratadas têm apresentado durabilidade superior a 70 anos, sob condições altamente agressivas e sujeitas a cargas significativas. Quando realizado dentro dos rigores técnicos, os produtos e processos de tratamento hoje disponíveis ao mercado asseguram a proteção contra as intempéries e organismos deterioradores, garantindo a durabilidade necessária. No caso do tratamento realizado sob pressão em autoclave, o ritual técnico garante a penetração e fixação de ingredientes ativos nas paredes dos capilares da madeira, através de operações de vácuo e pressão. Tais operações são realizadas em unidades industriais denominadas Usinas de Preservação de Madeiras. O tratamento a vácuo-pressão em autoclave não altera as características essenciais da madeira, simplesmente a torna mais durável, requisito fundamental aos materiais construtivos. Hoje a madeira tratada é utilizada como peças estruturais das mais variadas pela engenharia civil, como colunas ou vigas de sustentação, postes para estruturas de distribuição e transmissão de energia elétrica, dormentes ferroviários, peças destinadas ao paisagismo, equipamentos urbanos, mourões para cercas e peças para construções diversas. Enquanto que nos Estados Unidos a produção de madeira tratada em Usinas da Preservação de Madeiras, atinge um volume aproximado de 17,0 milhões de m³ ao ano, no Brasil estima-se que essa produção esteja por volta dos 1,2 milhões de m³. O interessante é que nos EUA, ao redor de 70% da produção são destinados ao setor da construção, enquanto que no Brasil, 60% da produção são destinados ao setor rural, em especial como mourões para cercas. Parece ter chegado o momento de praticarmos as regras do valor agregado, afinal, só no setor da construção estima-se que dos 22,0 milhões de m³ de madeira serrada, obtidos das florestas nativas brasileiras, ao redor de 4,6 milhões de m³ vão para a construção civil. Sem entrarmos no mérito do desperdício na obra, velocidade na montagem de sistemas, economia em especial, a conservação dos nossos recursos naturais nativos, é mais do que o momento de fortalecer o conceito das estruturas industrializadas, confeccionadas com madeiras tratadas obtidas de florestas plantadas. Hoje, a indústria voltada à preservação de madeiras está relativamente estruturada para o atendimento de grandes demandas. Os textos normativos e legislações existentes podem garantir uma retaguarda de qualidade e legalidade, proporcionando aos mercados consumidores total, conforto para uma transição gradativa ao uso da madeira tratada obtida de cultivos. A ABPM está em curso com um programa de qualificação de produtores de madeira tratada, envolvendo a concessão de uso de um selo de qualificação, objetivando indicar aos mercados consumidores de madeira as fontes confiáveis de suprimento. Nota do Autor: Texto baseado em parte no artigo “Wood Preservation Canada – Environmental Stewardship” (www.woodpreservation.ca). Nota do Editor: Flávio Carlos Geraldo é diretor da ABPM - Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (www.abpm.com.br).
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