Entrou apressada enquanto os outros conversavam, mastigavam, riam. Lentamente. Pediu três cafés, uma água mineral, um croissant. Era a hora do almoço. Seu dia acabava de começar. Precisava ficar um pouco sozinha, refletir sobre a ruptura de seu relacionamento após nove anos de idas e vindas. Permanecer naquela gangorra por mais um dia que fosse a levaria direto para o círculo dos insanos, viciados em relações tóxicas, reféns de si mesmos, da dependência do outro. Ela estava visivelmente abatida, as olheiras quase azuladas, ombros curvados, a pele acinzentada. Por mais que a dor lhe corroesse a alma e os ossos, um alívio discreto se aproximava, para seu próprio bem, já que retorno não haveria. Via de mão única. Seguir seria preciso. Olhou-se em um espelho pequeno que carregava na bolsa, já não se reconhecia, estranha que estava, sozinha, sem roteiro, sem chão, sem rumo. Um personagem. Ficou ali por algumas horas, sem noção do tempo, sem vontade de voltar para casa, de sorrir, falar, caminhar. Desejava que o tempo passasse e um dia ela pudesse ter apenas uma vaga lembrança daquele homem, rir de tudo aquilo, independente de estar só ou acompanhada. Quer sua identidade de volta. Não pode olhar para trás.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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