Será que você ainda faz o mesmo trajeto para o trabalho, ouve as músicas que ouvíamos juntos, é fissurado em cinema e teatro? Será que ainda deseja ter filhos, comprar uma casa para curtir finais de semana na praia, desligar a TV, esquecer o jornal, ser um pouco mais leve. Você... Continua fugaz? Ainda deseja os mesmos desejos? Viajar pelo mundo, fotografar a neve, derreter o gelo nas relações, passear de mãos dadas nos dias ensolarados? Será que aprendeu a dirigir, tirou a almejada carteira, fez alguma loucura saudável, saiu do lugar comum? Será que ainda cumpre promessas, é leal, sincero, um pouco ingênuo talvez, ou encarnou algum personagem para seguir adiante? Conheceu um outro alguém, diferente de mim, talvez o oposto e os sintomas entrelaçaram de uma tal maneira que você pensa que está satisfeito? Por que ainda quer ouvir minha voz, por que insiste, por que não me deixa ir de uma vez? Eu sei que é você. Será que ainda confere o gás e as portas antes de sair de casa, ainda chora, ainda comemora, ou cristalizou os sentimentos e leva tudo como um ser automatizado? Por que será que ainda penso nisso, eu que me reergui, que lutei, reagi, e sigo firme, apesar da sua ausência? Sim, eu lido bem com a falta, ela é escancarada, mas sobrevivi... E você, será?
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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