Especialista em Gestão Ambiental, João Ricardo Magalhães Gonçalves vê a nova lei como importante aliada no tratamento dos resíduos e na prática da reciclagem
O tratamento de resíduos é uma questão que sempre vem à tona quando se trata de dois assuntos que estão na ordem do dia: saúde e preservação ambiental. No Brasil são produzidas, por dia, mais de 150 mil toneladas de lixo, sendo que, segundo o último censo do IBGE, feito no ano 2000, em 64% dos municípios tudo é jogado em terrenos que não passam por nenhum tipo de controle: os lixões. Estima-se que 20% da população não dispõem de sistema de coleta de resíduos no Brasil. Os aterros estão presentes em apenas 13% dos municípios brasileiros, sendo que, cerca de 60% dos resíduos totais coletados não tem destinação adequada e apenas uma pequena parte é reciclada. Recentemente, o Presidente da República sancionou a nova lei que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Entre as novidades, o documento obriga, por exemplo, a logística reversa, na qual os fabricantes se responsabilizam não apenas pelo produto fabricado, mas também pelo seu futuro no meio ambiente. Segundo João Ricardo Magalhães Gonçalves, arquiteto, urbanista, consultor especialista em Gestão Ambiental e sócio-diretor da ECCOX Tecnologia e Soluções Ambientais, a nova lei incentiva o uso de tecnologias mais duráveis e a prática de reciclagem de muitos resíduos que são descartados apresentando ainda alto valor agregado. “O Brasil é responsável pela produção de 6,5 % da produção de lixo no mundo. Com a nova política teremos planejamentos sobre como tratar os resíduos em todas as esferas da sociedade. Os municípios deverão eliminar os lixões e implantar sistemas de coleta e reciclagem, além de atribuir responsabilidades reais ao gerador, sobretudo industrial, que deverá implantar sistemas de logística reversa. Desta forma, cada um se responsabiliza por seu resíduo, envolvendo diretamente uma maior conscientização da população que também cobrará mais rigor das autoridades responsáveis”, afirma João Ricardo. Como especialista em gestão ambiental, João Ricardo lembra ainda que, para garantir a sustentabilidade do planeta, a cultura do 3R precisa ser incorporada na vida das pessoas e das organizações. “Reduzir, Reutilizar e Reciclar é fundamental para preservar a vida na terra. É preciso vencer primeiro estas etapas para depois descartar o lixo de forma adequada”, completa. Incineração Dentre as diversas formas de tratamento do lixo urbano, a incineração (queima do lixo em usinas) tem sido atualmente uma das mais discutidas. O método, que é de alto custo devido à utilização de equipamentos especiais, apresenta vantagens e desvantagens. A incineração é uma forma adotada por países que não possuem a disponibilidade de áreas como o Brasil, com o benefício de diminuir o volume dos resíduos e combater pela queima os perigosos para a saúde. Segundo João Ricardo, o tema é polêmico, pois existem inconvenientes relacionados ao uso da incineração. Para ele, o mais grave é a poluição do ar causada pelos gases da combustão e por partículas não retidas nos filtros e precipitadores, muitas vezes ocasionada pela má operação ou especificação da tecnologia. “A incineração gera poluentes atmosféricos, sendo necessário um rígido controle tecnológico do sistema de exaustão e filtros que devem ser implantados”, explica. Aterro sanitário Em contrapartida, os aterros sanitários, sistema mais utilizado no Brasil, tem o agravante de contaminar o solo, um problema até então irreversível. “A questão dos aterros sanitários é que eles geram um líquido altamente contaminante, chamado de chorume, que tem alto poder de contaminar as águas subterrâneas. Além disso, o próprio aterro contamina o solo, deixando a área inutilizada para ocupação urbana futura, exceto para a criação de parques e afins”, afirma. Crédito de carbono Espécie de moeda ambiental que pode ser obtida por diversos meios, entre eles, projetos que absorvam GEE (Gases de Efeito Estufa) da atmosfera; reflorestamento e aproveitamento das emissões descarregadas na atmosfera (metano de aterros sanitários) para a produção de energia. A decomposição do lixo orgânico tem como subproduto o metano (CH4), segundo principal gás de efeito estufa que, apesar de presente na atmosfera em quantidade bem menor que o CO2, tem um potencial de aquecimento muito maior, 21 vezes superior ao gás carbônico. Em 2007, o mercado mundial de carbono praticamente dobrou, movimentando 64 bilhões de dólares segundo levantamento do Banco Mundial. “Os aterros existentes no Brasil conseguiriam emplacar projetos de desenvolvimento limpo e gerar créditos de carbono ao queimar metano, transformando-o em CO2, menos agravante ao efeito estufa. Porém, há ainda potencial de ganhos financeiros não só com o crédito de carbono obtido, mas com a venda de energia. Em vez de queimar o metano, os gases podem alimentar uma mini-usina de energia”, completa João Ricardo.
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