Você não me viu, mas eu estava lá, espiando. Quando se aproximou, disfarcei, dei alguns passos, fumei um cigarro, cobri o rosto com os cabelos, agora um pouco mais claros. Acho que ninguém prestou atenção em mim, ainda era muito cedo, pareciam todos sonolentos. Estava com minha câmera e quis muito registrar um momento seu, qualquer um, por mais simples que fosse. Fotografei um pedaço de sua nuca, fiz também uma foto de sua mão esquerda e não poupei nem a xícara do café que você bebeu, de um gole só, rápido demais. Logo você que foi sempre tão tranqüilo, hoje me pareceu um pouco tenso, preocupado talvez. Quando saiu, esperei um tempo e fui atrás. Queria saber o que iria fazer, com quem estaria, se já teria encontrado um novo amor ou se continua um blefe. Você sempre foi um canalha. Não me surpreendi, o trajeto foi idêntico ao da nossa época, tudo tão previsível. Parou naquele mesmo parque, olhou para o céu - que estava realmente bonito - e seguiu caminhando. Quando foi embora, não resisti e fotografei suas pegadas que ficaram registradas na terra. Você conhece minhas manias, meus hábitos: desejo sempre um rastro.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|