Dias para reunir os pedaços, ajustar, formar um mosaico. Um tempo para se permitir, ajeitar a casa, fazer faxina moral, chacoalhar a cabeça, desintoxicar. Saudades do futuro, lembranças de quem não veio. Qual era mesmo seu nome? Estranho... eu nunca me lembro do nome das coisas. Parei, faz tempo, na época dos portões sem grade, das brincadeiras no meio da rua, das festas inventadas. Me lembro de uma doce menina. De onde era ela? Faz tanto tempo... eu nunca me lembro do nome das coisas. Imaginei uma vida vibrante, tons quentes, praças iluminadas, relações com profundidade. Tudo anda tão de diferente, líquido... não importa. Eu nunca me lembro dos nomes e ando me esquecendo até mesmo das coisas. Levei um susto, alguém surgiu e tentou me levar, foi tão rápido! Nem prestei atenção, só sei que plantou uma semente, ao menos isso deixou. Quando? Não sou boa para datas, que diferença faz. A roda girou. Nasci aos noventa e morro menina. Estou aqui. É isso o que importa. Melhor assim. Eu nunca me lembro do nome das coisas.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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