Ah, eu quero um clone meu, para gargalhar enquanto conto casos, tomar café forte e filosofar sem receio de ser taxada de lunática. Quero me enxergar como humana, que tem virtudes e defeitos. Preciso me ver bem de perto, confidenciar segredos, aqueles que não conto a ninguém, nem para mim mesma diante de um espelho. Quero chorar e falar abertamente, ser ainda mais transparente do que sou. Quero incentivo de quem mais me ama, admira e cuida. Vou urrar aos quatro ventos, com duas bocas, em uníssono, que sou feliz com minhas particularidades. Continuarei a sentir pena dessa gente fragmentada, pobre de espírito, que perde um tempo precioso falando de meus tropeços. Pensam que são blindados, invulneráveis. Meu clone e eu bocejaremos ao vê-los assim, com ares de pseudo superioridade. Viajaremos pelas cidades de Minas, iremos juntos fotografar, leremos livros e trocaremos mil e uma idéias, cuidaremos dos que precisarem, estenderemos as quatro mãos a todos os que nos solicitarem. Ficaremos de bom e mau humor, passaremos por dias de sol e tempestades, emprestaremos as roupas um ao outro, pintaremos nossos cabelos brancos com as tintas mais variadas. Vamos virar noites olhando a lua e contando estrelas, acordaremos embriagados com a beleza do mundo, sentiremos angústia e teremos esperança, dançaremos no meio da rua, estranharemos nossas semelhanças e ficaremos eufóricos com a experiência única de nos identificarmos absolutamente. Não, não é pedir demais, quero um clone meu para me observar através de um novo ponto de vista, e estar sempre próxima desse outro tão desejado.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|