Esses bichinhos tão fofos e queridinhos também impõem um certo “manejo” na vida urbana. Eles são indispensáveis nessa era “newpósmoderna”, essencialmente porque nunca reclamam, dão carinho, atenção, cumplicidade. Tudo aquilo que a gente raramente encontra entre o Homo sapiens. O problema é que ter cada vez mais animais na cidade exige uma educação, uma consciência que poucos donos dispõem. Antes de mais nada, não sou contra os bichos. Eles são maravilhosos e nos ensinam muita coisa, mas desde que estejamos dispostos a aprender. Andar em parques, calçadas, ou até mesmo descer do carro é algo que exige mais que atenção na cidade. É preciso ter paciência, resignação. Não dá para se entregar à indignação, ao mau humor só porque, mais uma vez, se pisou em cheio nos excrementos de algum mimoso de apartamento. A coisa fica ainda mais complicada quando os gatos da vizinhança, esses que a gente nem sabe se tem dono, usam a garagem como banheiro. Deixam o pára-brisas e a lataria cheios de patinhas. Pior: não se tem para quem reclamar. As fezes desses bichinhos hoje ocupam um espaço jamais imaginado anos atrás. Quem tem criança pequena como eu, precisa ter muito cuidado em qualquer local público. Há cocô, não só de animais, mas de humanos, em ruas, canteiros, parques e por aí vai. Areia de pracinha então, nem pensar, pelos microorganismos “biodiversos” que vivem ali. Adoro caminhar pelas ruas de qualquer cidade. Especialmente no meu bairro, o Menino Deus, em Porto Alegre, que é plano, é uma delícia andar, desde que o cheiro de fezes não esteja exalando pelo ar... Infelizmente, esse tipo de sujeira é cada vez mais comum por aqui. Pelas ruas também é possível constatar que o “inocente” xixi corrói postes, grades, portões, enfim tudo que sofre com a acidez desse desprezado líquido. Os donos dos animais não percebem que o trânsito e as “emissões” de seus queridinhos impactam não só o seu ambiente interno, onde soltam pêlo, odores, fazem xixi etc., onde eles são responsáveis, mas também nas áreas públicas, “sem dono”. Os bichinhos, com o consentimento de seus proprietários deixam rastros para os outros resolverem. Como é muito mais cômodo fingir que não se vê, o mau cheiro e o sapato sujo é rotina. Ponto. Mas alguns cidadãos já estão mudando de atitude. Hoje mesmo vi uma moça recolher um polpudo cocô de um labrador em frente ao meu prédio. Vale destacar uma iniciativa muito interessante da 303 Norte de Brasília. Lá a prefeitura da quadra disponibilizou saquinhos de papel e um recipiente para serem armazenados os detritos recolhidos. E o interessante é que o pessoal ainda usou laminados de embalagem de pasta de dente, como mais uma forma de educação ambiental. Com a medida, todos moradores adotaram a prática “calçada limpa”. Mas, como Brasília é a “ilha da fantasia”, no resto do Brasil, o jeito é usar a criatividade. Um amigo meu adota uma tática interessante. Ele conta que para que os cães não usem sua calçada como privada, ele urina em um balde, mistura com água e depois espalha nos pontos estratégicos, que seriam ideais para as bexigas caninas se esvaziarem. Com essa simples medida, sua calçada tem permanecido limpa. São exemplos como esses que mostram que uma mudança já começou. Vinte anos atrás ninguém pensava em juntar cocô de cachorro. Também não existiam pets como hoje. Isso tudo indica novos rumos de comportamento. Assim como há cada vez mais recursos para que os animais sejam adestrados e dóceis, tomara que seus donos fiquem mais educados e conscientes. Nota do Editor: Silvia Marcuzzo é jornalista e trabalha a temática socioambiental desde 1993. Já transitou em diversos “ecossistemas” e arranjos energéticos do jornalismo. Ao passar por assessorias de ONGs, governos e consultorias para empresas, em Porto Alegre, São Paulo e Brasília, sempre manteve a convicção de que é possível melhorar a relação entre os “ambientes” e a comunicação. Por isso, fundou a ECOnvicta Comunicação para Sustentabilidade.
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