Lígia está on line. Plugada, frenética, solícita, falante, excêntrica. Faz tudo ao mesmo tempo agora. Varre a casa, responde um e-mail, atende o telefone, morde o sanduíche, abre a porta para a galera que acabou de chegar: oito amigos que baixaram em seu quarto e sala às nove horas da noite de uma terça-feira chuvosa para assistir a um filme. Rapidinho, reuniãozinha breve. Quatro dias se passaram desde o último encontro. Estão mor-ren-do de saudades. São seis horas, dispara o despertador falante. Só mais dez minutos, reprograma. São seis horas, ela não suporta acordar tão cedo, quase madrugada. Levanta cambaleante, cabelos cacheados para o alto, aquele corte argentino que precisa de chapinha para ficar no jeito, fora as luzes que custaram uma baba e não realçam se não forem devidamente espichadas. Entra no chuveiro calçando meias, mas não importa, precisavam mesmo ser lavadas. Corretivo nas olheiras, secador apenas na franja porque não tem tempo, está meio atrasada, como de costume. Bebe meio litro de café bem forte, morde a metade do pão com manteiga, sai vestindo o casaco de náilon e puxando a galocha que custa a entrar em seu pé. Passa pela portaria e dá um "oi" a jato para o porteiro e para a vizinha de porta, manda beijos, deseja que tenham um ótimo dia, o dela já começou meio torto. Coloca o capacete, parte em sua moto, essa figura quase caricata, multifacetada, multimídia, a mulher multitarefas desses nossos dias tresloucados.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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