Ana nunca achou muita graça em Marcos, mas como o mercado masculino não anda lá essas coisas e a concorrência feminina é crudelíssima, resolveu investir uma grande quantidade de afeto e construir uma relação consistente com esse carinha distraído que precisa mesmo é de um suporte. Aí sim, ficará equilibrado, domesticado e prontíssimo para acatar suas ordens. Ou melhor, pedidos, desejos. Não, Ana não é uma ditadora explícita. Ela envia mensagens subliminares. Bem doce, blasé. Aninha faz o estilo fofa, boazinha, quase ingênua. Para inglês ver. Na verdade, ela é um tornado, devastadora, espalhafatosa em suas entranhas. Utiliza suas máscaras, personas, para desenvolver uma vida pacata em sociedade. Mas não duvide, Ana é um furacão demolidor. Marcos precisa de Ana para respirar. Para dobrar suas cuecas, arrumar suas malas, alugar os filmes que irão assistir juntinhos na cama que Ana escolheu, no quarto decorado por ela, na casa que ela quis. Ela é o centro do universo paralelo onde o desavisado habita. Ele parece invisível. Ana fala baixinho, quase não se ouve sua voz. Ah, essas mulheres todas bejes... Um roxo grita por trás desses tons pastéis. Marcos nunca foi tão tolamente feliz. Ele nem sabia que existia, mas Ana o reformou completamente. Ela o comprou a prestações, injetando nele algumas doses de autoestima. O supervalorizou e agora Marcos está muitíssimo bem cotado. Muito obrigado, Ana. Ela o coloca para a frente, indica caminhos, possibilidades. É sua mentora, guru, sócia, espelho. Ele reflete sua imagem. Ana não perde a chance.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|