Há duas semanas atrás, minha cadela fox paulistinha, que tem nove anos de idade, recebeu o diagnóstico de diabetes. Como a quantidade de urina aumentou absurdamente de dois meses para cá, corri com ela para a clínica. A glicose estava altíssima. Ela foi submetida a exames de sangue, a curva glicêmica foi realizada com objetivo de determinar como seria o tratamento e tudo foi entrando em uma certa normalidade. Diariamente é aplicada uma dose de insulina, onde o problema crônico é controlado. Ela passa muito bem. As doenças chegam sem nosso consentimento, sem dó nem piedade. Não querem saber se nossa cuca está legal para lidarmos com elas. Também não consultam nosso saldo bancário para saber se daremos conta das despesas. Além de estar triste por ela, meu bolso gritava. Primeiro vieram os exames, a hospedagem, depois o frasco de insulina. E eu suava frio. Além disso, precisava de alguém que aplicasse a dose para mim, já que devido ao nosso grau de intimidade, ela dá saltos e solavancos. Sem contar que não manejo bem aquela agulinha fina. Então, combinei na clínica um pacote de banho com as aplicações incluídas. Jóia! De repente, veio a notícia fatal: “você terá que pagar a seringa, que é descartável. À parte”. Pronto, foi a última pá de cal. Cheguei em casa e chorei ao fazer os cálculos. Um choro sofrido, que apenas os dramáticos, descendentes de italianos como eu, conhecem. Aproveitei e chorei todos os atrasados: desafetos, mágoas, decepções, as enchentes, os tsunamis, os maremotos, as guerras, as antigas dores de cotovelo, de coluna e de cabeça. Chorei por causa do preço do tomate. Chorei as pitangas possíveis e as inimagináveis. No dia seguinte, respirei fundo para chegar com ares de tranquilidade e conversar com o veterinário. O rapaz olha para mim e diz, calmamente: "a seringa custa apenas vinte centavos”. Ou seja, sairia pelo menos quinze vezes mais barato do que o valor que eu havia calculado. Vou te contar, no fim de tudo ri de mim mesma e percebi que sofri sem tanta necessidade. O sangue açucarado da minha querida cachorrinha me lembrou mais uma vez que às vezes sou mesmo assim, um tanto exagerada.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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