Nos últimos dias tenho pensado a respeito de deficiência. Quando ouço a palavra penso em algo que falta, disfuncional. De maneira geral, noto que o termo é muito associado a deficiência física, quando esta pode acometer a estrutura mental do indivíduo. Mais interessante foi quando perguntaram para mim, com um enorme espanto, se uma terceira pessoa, membro de minha família, seria deficiente. Eu respondi que sim. O senhor me olhou com um olhar assustado, pois havia convivido com essa pessoa, e sabia que não lhe faltavam os dedos, nem a audição, tampouco a visão; não é tetraplégica, tem todos os membros no lugar e em perfeito funcionamento. Então, expliquei a este senhor: “ela é deficiente mental.” Imagine a expressão de espanto e constrangimento de quem escuta isso, principalmente da forma natural como foi dita. Eu não me assusto com os problemas que outros enxergam como algo avassalador. Aqui perto de casa mora um senhor com um transtorno mental bastante grave, o transtorno bipolar do humor, em um grau severo. Infelizmente a doença chegou em um ponto onde ele tem surtos, quebra objetos em casa, torna-se agressivo e a internação se faz necessária. Nos últimos meses, foram várias. Sempre que o encontro converso com ele. Interessante: ele fala sozinho, às vezes agressivamente, mas sempre me respeitou. Talvez porque eu o respeite, e ele perceba isso de alguma forma. Conversa comigo normalmente, com uma lucidez que pessoas não diagnosticadas, consideradas normais, nem sempre conseguem. Para ser bem sincera, as deficiências que mais me ferem e me espantam, são as que acometem a alma. O egoísmo, por exemplo, é o déficit de amor em relação ao outro, é a chaga que assola a humanidade. A estupidez, a ignorância, a crueldade, são deficiências sim, das mais graves. E há também a deficiência da falta de autoconhecimento, que faz parecer que o problema está sempre no outro, no vizinho, no parente, no amigo que parece e pode até ser complicado, mas que pode servir como um espelho, mostrando o que deve ser corrigido em nós. O preconceito é o maior inimigo dos deficientes, sejam físicos ou mentais. Por favor, não os maltrate, não os coloque em um patamar de inferioridade, porque não é esse o caminho. Todos somos vulneráveis, estamos sujeitados a passar por qualquer coisa na vida, mesmo. Ninguém está livre de ter um parente esquizofrênico, distímico, ou com características físicas que possam causar limitações. Olhe ao redor, repense seus valores e coloque-se em seu lugar, o de um ser humano, aberto a todas as possibilidades. Se não puder acolher alguém diferente de você, dispensar cuidados e atenção, ao cruzar com essa pessoa, peço: respeite-a. É o mínimo que alguém considerado são pode fazer.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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