Às vezes imagino uma grande pista de gelo. Ao meu aproximar dela com patins nos pés, tenho receio de pisar e cair. É claro que cairei, todos caem. Alguns não conseguem se levantar e encarar a platéia que observa atenta. Outros erguem a cabeça e prosseguem com alguns arranhões. Deslizam, rodopiam, saltam. Surpreendem a si mesmos e aos que estão ao redor. Quem não acredita no próprio potencial nem chega a calçar os patins. Quem está excessivamente preocupado com aprovação alheia hesita, olha para o chão e desmorona sem completar a primeira volta na pista. Quem cai e levanta é convicto de que o chão não é tão intimidador. O importante é observar o que nos leva para baixo e corrigir os erros o mais rápido que pudermos. Na pista de gelo, ensaiamos os primeiros passos com alguém nos apoiando, para algum tempo depois patinarmos sem mãos que nos segurem. A carreira solo é fundamental para nos sentirmos confiantes intimamente. Patinar em dupla é uma opção quando atingimos uma certa maturidade, mas a parceria deve ser sólida como o gelo para que os tropeços sejam mais amenos e as quedas menos bruscas. Não se esqueça, cair faz parte do processo, mas o objetivo é nos mantermos em pé, leves e flexíveis. A coreografia na pista de gelo deve ser harmoniosa. Nossos olhares devem estar focados para cada novo movimento. Quando olhamos para trás, perdemos o prumo duramente conquistado. Não sabemos quando completaremos todo o percurso. Enquanto isso, deslizamos continuamente. Chega um dia em que saímos da pista, colocamos os patins de lado e outros estreiam na grande pista. São ciclos ininterruptos, pois outros chegam, sempre. Ficamos na torcida para que haja mais beleza e êxito do que escorregões no gelo espesso do caminho dos novos que se apresentam.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|