O que essa inquietação provoca é a busca inevitável por algo mais, alguma coisa que se esconde, que está do lado de fora, que desaparece instantâneamente ao ser tocada. Os inquietos, que fervem intimamente e não descansam, elaboram alguma forma de aplacar esse desejo insaciável e esgotam-se nesse ir e vir de idéias que mudam sem cessar. Correm daqui para lá, trocam de projetos, de parceiros, de vínculos, mas buscam sempre e sem pausa, pois a monotonia dos dias não suportariam, já que o que os mantêm vivos é o movimento, esse frenesi de sensações de perdas e ganhos, de altos e baixos. São cidadãos do mundo, ainda que muitos não tenham a oportunidade de deslocar-se fisicamente quanto gostariam. Suas mentes são seu melhor passaporte. Borbulham, entram em eupção, custam a encontrar a paz, e nem sei se a querem de fato, já que tudo o que remete a um certo sossego os empurra para fora do casulo, e saem por aí a voar, esses inquietos de berço. Desassossegados
Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade. Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam. Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam antes de concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam. (Martha Medeiros)
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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