Cabe somente a você consumidor não deixar se levar pelo ímpeto e pesquisar loja, preço e juros. Além de prestar atenção com as armadilhas para atraí-lo
O anunciado crescimento das vendas para o Natal de 2009, realmente se concretizou, selando e confirmando os indícios da retomada do crescimento da economia. As vendas do Natal de 2009 cresceram 11,26% sobre o registrado no mesmo período do ano passado. Ninguém mais duvida que 2010 reserva para a economia brasileira um período de bonança, seja para a indústria, o comércio ou para o trabalhador de uma maneira geral. Os números demonstram a confiança do consumidor na economia e refletem uma amostra do apetite de consumo da população para 2010. Soma-se a esses indicadores a necessidade de investimento governamental em diversas áreas para abrigar e sediar de forma decente os dois maiores eventos esportivos do globo, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Infelizmente com toda essa euforia e otimismo e sendo 2010 um ano eleitoral, onde muitos fatores não devem ficar claros, e que o jogo político tende somente a estimular e jamais confrontar interesses de toda ordem. O consumidor estará só e necessariamente, por conta própria devendo de forma rígida lutar por seus direitos. O movimento de fusão e aquisição ocorrido nos últimos anos, inclusive o último no final de 2009, com a fusão das Casas Bahia com o Grupo Pão de Açúcar deverá dificultar as opções de compra do consumidor, uma vez que a concentração de mercado elimina concorrência, propicia a diminuição da oferta de produtos e gera um aumento de rentabilidade nas margens de venda. Ao consumidor restará paciência e muita pesquisa, antes de realizar as compras. Em muitos casos a pesquisa deverá se relacionar, não apenas ao produto, mas também ao estabelecimento, ou seja, pesquisar em 2010, um liquidificador em lojas da mesma rede será pura perda de tempo, pois todos fazem parte do mesmo grupo. A pesquisa deverá incluir o produto em estabelecimentos sabidamente concorrentes neste caso, uma boa opção seria a pesquisa em lojas de redes distintas. Outro ponto delicado na relação de consumo para 2010 é um velho conhecido que a maior parte dos consumidores prefere ainda ignorar, os juros. O Brasil é um dos países com maior spread bancário do mundo, essa conduta de juros é seguida à risca pelo varejo nacional, hoje a receita do comércio já ultrapassa 60% em ativos financeiros contra menos de 40% de lucro na venda mercantil. Esses juros estão inteligentemente escondidos e maquiados nos preços dos produtos na forma de prestações fixas com juros que variam de 3 a 12% ao mês, dependendo do tipo de produto, do financiamento e do risco que o consumidor oferece. Aqui mais uma vez cabe somente a você consumidor não deixar se levar pelo ímpeto, não se empolgar pela potência econômica que está por vir e desprezar, no momento da compra, o hábito necessário de pesquisar, verificar ou até mesmo desprezar uma compra, em função de abusos cometidos, seja na forma do valor final do produto, do ponto de vista da qualidade ou da vergonhosa taxa de juros aplicada a um bem de consumo. Na crise e na recessão, a lembrança do consumidor costuma ser mais ativa e criteriosa, pois, o bolso vazio e as dificuldades são grandes aliados para a memória. Já em épocas de crescimento e agitação econômica positiva, o consumidor perde a razão. E a recordação de um passado recente, de crise e recessão, se esvai rápido da memória do consumidor, assim como se esvai cada centavo gasto, muitas vezes sem critério. O ano de 2010 chega para todo mundo aproveitar, cuidado apenas para não gastar mais, do que será possível ganhar! Nota do Editor: Sérgio Nardi é escritor, especialista em gestão empresarial e autor dos livros “A Nova Era do Consumo de Baixa Renda”, “Marketing para o Varejo de Baixa Renda” e “Viva Melhor”.
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