Amanhã, a última folha do calendário do ano de 2009 será mais uma página virada e o ideal seria que nos tornássemos folhas em branco que pudessem conter novas histórias, mais interessantes e significativas. Sempre considerei a virada do ano um grande acontecimento, onde algo transformador pudesse finalmente ser concretizado, mágoas pulverizadas, rancores dissolvidos, fúrias aplacadas, boa-venturança chegando, trazendo novos desafios com uma esperança turbinada e esse menu de sensações que fazem muito bem aos corações, especialmente os das pessoas mais intensas. Já que sonhar é gratuito e fomenta nossas conquistas, ainda não havia desconsiderado a possibilidade de que tudo isso pudesse de fato realizar-se com uma simples mudança de data. A tal reforma íntima, a mudança que tantos almejam, não pode ser feita assim, em um piscar de olhos, ou como quem troca de roupa para aguardar a virada em contagem regressiva. É construção paulatina, cheia de percalços, avanços e regressos, alegrias, tristezas e muita obstinação. É necessário tapar os ouvidos às más sugestões, aos comentários alheios de que não será possível alcançá-la. Tais pessoas simplesmente não despertaram para isso. Minhas ilusões de uma transformação a curto prazo não existem faz muito tempo, mas continuo mantendo viva a esperança de que a cada dia, ainda que errando, a transformação nos impulsione para a concretização do que sempre desejamos ser. “Cortar o tempo (Carlos Drummond de Andrade) Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|