Tudo o que é obrigatório traz um grau de comprometimento que em certos momentos da vida torna-se difícil, mas que cumprimos pelas mais diversas razões. Evitamos faltar ao trabalho de todas as formas, fazemos o possível para ir à faculdade com frequência, cuidamos de todas as tarefas necessárias ao desenvolvimento natural do cotidiano para que a vida flua e tudo esteja cercado por uma certa harmonia. Mesmo que bata a vontade de jogar tudo para o alto, o bom senso e o instinto de sobrevivência dão um jeitinho de sossegar nossos instintos. E quando o que é obrigatório, cobrado de nós, sem que talvez notemos, é o sentimento de felicidade? O que fazer se não sentimos aquela alegria perene, se não estampamos aquele largo sorriso na cara pálida, se nossas olheiras andam lilases de tanto cansaço acumulado? Como é difícil andar com disfarces, ensaiando para que ninguém pergunte o motivo de você estar um pouco menos falante, um pouco mais magra, um pouco insípida, um pouco áspera. Você, que sempre foi um doce, tão comunicativa, tão carismática. A sociedade não quer a tristeza, a depressão, a desventura, a adversidade. Se aconteceu com alguém, pode acontecer comigo, então não se fala mais nisso. Vamos varrendo a sujeira para debaixo do tapete, vamos fingindo, empurrando, gargalhando e tomando champanhe na festa de formatura da vizinha, no aniversário da concunhada, no batizado do primo, nas bodas de algodão da irmã. Sempre bonita, sorrindo, disposta, feliz. Felicidade compulsória, ninguém suporta uma dose a mais de melancolia.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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