Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro discute a situação da região com mais conflitos no Brasil.
"O litoral brasileiro nunca sofreu tanta pressão e a opinião pública não está consciente das conseqüências desse processo. Estamos à beira do caos". A frase é da pesquisadora Tânia Mascarenhas Tavares, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), uma das maiores especialistas brasileiras em poluição. Coordenadora do Programa de Recursos Costeiros e Hídricos da Avina (www.avina.net), a especialista acredita que essa "alienação" da comunidade advém da falsa impressão de que os recursos marinhos são infinitos. "Isso é falso. Muitos recursos costeiros, como certas espécies de crustáceos e peixes, já estão esgotados ou perto disso", afirma Tânia, salientando que "o litoral, o mar, é onde tudo termina, onde a maioria dos rios deságua e, com eles, vai toda sorte de dejetos poluentes". Para o pesquisador Milton Asmus, da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a poluição orgânica, resultado da ocupação desordenada da costa, é, se não o maior, um dos mais graves problemas ambientais do País. Asmus é o delegado internacional da Agência Brasileira de Gerenciamento Costeiro, que reúne dezenas de cientistas focados no estudo do litoral brasileiro, uma área cujas atividades são responsáveis por nada mais do que 70% do PIB do País. Para muitos, a verdadeira locomotiva do Brasil. Parte desses pesquisadores, ao lado de especialistas europeus, estarão reunidos entre os dias 16 e 19 de novembro, na Bahia, no Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro. O evento marca os 15 anos da implantação da Política Nacional de Gerenciamento Costeiro - criada com o objetivo de implantar ações que evitem ou minimizem os inúmeros problemas enfrentados por essa que é a região mais conflituosa do País. Nesse trecho, onde vivem cerca de 80% da população brasileira, evidencia-se uma forte pressão imobiliária, ao lado das maiores cidades do País, convivendo com a necessidade de preservar as áreas de manguezais, que ainda margeiam a maioria dos nossos portos, considerados um dos "gargalos" da economia brasileira. É como se essa "locomotiva", o litoral, estivesse bem perto de parar. No Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro, os cientistas brasileiros e europeus vão trocar experiências, apresentar estudos inéditos e programas que vem conseguindo melhorias sociais sem o comprometimento ambiental. É a sociedade civil exercendo seu papel, buscando alternativas frente a uma situação delicada, com reflexos danosos a toda a sociedade. O evento está com inscrições abertas. Mais informações: www.agenciacosteira.org.br ou pelo telefone (0**13) 3221-1554. Litoral em Números
- 2/3 da humanidade habitam zonas costeiras - 532 municípios estão na zona costeira do Brasil - 89% da população urbana ocupa 21 dessas localidades - 70% do PIB brasileiro está no Litoral - 80% da população vive no Litoral (200 km da costa) - 5 das 9 regiões metropolitanas do País estão à beira mar, concentrando mais de 15% da população brasileira - A maior densidade demográfica do litoral brasileiro está em Pernambuco, com 913 habitantes por km² - o litoral do Amapá tem é o menos populoso com 2 habitantes por km². Fonte: Livro Contribuições para a Gestão da Zona Costeira do Brasil (editora Hucitec), de Antonio Carlos Robert Moraes - um dos palestrantes do Encontro Nacional de Gerenciamento Costeiro.
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