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Meio Ambiente
22/11/2009 - 18h03
Clima, poluição e medicina
Paulo Saldiva e José Luiz Gomes do Amaral
 

Em outubro de 2009, na Assembléia Geral da Associação Médica Mundial (WMA), foi aprovada a Declaração de Deli, política de recomendações produzida pela WMA sobre mudanças climáticas e seus impactos na saúde humana. O documento será lançado na Conferência Doutores do Ambiente, que acontecerá em 28 de novembro, no Teatro da Faculdade de Medicina da USP.

O planeta já apresenta vários sinais e sintomas de doença. Febre Progressiva, pelo aquecimento da Terra; dependência física de petróleo; obesidade, por consumirmos energia em excesso; dispneia pela contaminação da atmosfera por poluentes; obstrução arterial difusa, por congestionamentos intermináveis; insuficiência renal, por não conseguirmos eliminar adequadamente os nossos resíduos; diabetes, caracterizado pela incapacidade de aproveitar plenamente as fontes energéticas que dispomos.

Exames mais detalhados revelariam tremores de terra ocasionais, edema pela elevação dos mares e chuvas torrenciais, alopécia por desmatamento, obstipação pelo despejo de esgoto nos rios e, por que não confessar, flatulência, eliminada de tempos em tempo, indiscreta e despudoradamente, sob a forma de tornados e tufões. Acrescenta-se a tudo confusão mental, que nos impede de avaliar adequadamente a gravidade da situação. Finalmente, temos que admitir impotência ante a este estado de coisas.

É imperativo que os profissionais da saúde tenham uma atitude mais ativa, auxiliando a elaboração de ações voltadas à sustentabilidade, que deveriam obedecer aos seguintes parâmetros: esclarecimento aos pacientes, exemplos, parcerias, limites, ética e coragem.

Os pacientes devem ser informados que medidas voltadas para adoção de práticas com menor demanda energética promovem benefícios imediatos e significativos à saúde daqueles que as adotam. Atividades como caminhar e andar de bicicleta diminuem o risco de doenças cardiovasculares.

Ao reduzir o consumo de energia dentro de casa e incentivar o hábito nos locais de trabalho, os médicos exercem liderança pelo exemplo. É possível agir como parceiros da sociedade civil propondo ações de mitigação das emissões de poluentes e adaptação ante aos impactos ambientais.

Os médicos devem promover o conceito de limites responsáveis do uso de energia, expor claramente as questões de ética ambiental e mostrar que as alterações da atmosfera afligem com maior intensidade os segmentos menos favorecidos da sociedade. Finalmente, há que se robustecer a coragem para enfrentar o futuro debate no campo das ideias e da litigância com importantes setores da economia e da política.

A respeitabilidade nos confere obrigação para agirmos. Caso não iniciemos o processo agora, poderemos, mais tarde, ser culpados do pecado da omissão.


Nota do Editor: Paulo Saldiva, médico, chefe do Serviço de Patologia do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental do Conselho Nacional de Pesquisas. José Luiz Gomes do Amaral, médico, professor titular da disciplina de anestesiologia da Unifesp e presidente da Associação Médica Brasileira.

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