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Meio Ambiente
21/11/2009 - 07h01
Por que estamos arruinando nosso próprio planeta?
Daniel Spiro e Henrique Pacini - Mercado Ético
 

Porque estamos emitindo gases causadores de efeito estufa, se o efeito final de fazê-lo é tão prejudicial ao nosso bem-estar?

Emissões de gases causadores de efeito estufa são um fenômeno natural na história do planeta. Esses gases fazem com que a atmosfera retenha mais calor e com isso elevam-se as temperaturas. A emissão de gases e o aumento nas temperaturas foram fundamentais para o estabelecimento das condições necessárias para a formação e manutenção da vida. Quando os primeiros assentamentos humanos surgiram, as chamadas emissões antropogênicas (causadas pela atividade humana) começaram a subir, principalmente devido ao consumo de energia, alterando os padrões normais de carbono na biosfera. Segundo indícios hoje existentes, após a revolução industrial, as emissões causadas pelo homem cresceram exponencialmente, alterando na prática os padrões de aquecimento e esfriamento do clima.

Mas por que isso é causa para preocupação? Existem duas dimensões a serem consideradas. De um lado, a mais visível consequência do aquecimento global é o potencial de afetar a humanidade tanto economicamente como socialmente, através do comprometimento de nossa base de recursos e tornando regiões inabitáveis. É importante lembrar que grande parte das cidades no mundo está localizada próxima a fontes de água, como grandes rios e oceanos. Em uma visão simplista, temperaturas mais altas podem causar um aumento no nível dos mares e na aridez, o que afetaria diretamente centros populacionais e os recursos hídricos associados a estes. Isso muito provavelmente causaria profundos distúrbios sociais, resultando finalmente em perdas de vida por doenças, fome e guerras.

Por outro lado, a emissão de gases de efeito estufa é parte integral da atividade econômica contemporânea. A utilização de combustíveis fósseis e o desmatamento estão literalmente movendo nosso mundo. O economista inglês Nicholas Stern produziu um estudo em 2006, em meio a outros similares, em que foi apresentado uma estimativa dos prováveis custos que serão causados pela mudança climática. Segundo Stern, o preço a ser pago pela mudança climática irá superar quaisquer benefícios de se continuar com as emissões como ocorrem hoje. Do ponto de vista da sociedade, podemos nos perguntar: se é obvio que a trajetória não é vantajosa, por que então estamos emitindo gases de efeito estufa? Para entender essa aparente contradição, vejamos os três principais problemas que devem ser resolvidos.

Primeiramente, o conceito econômico conhecido como “dilema dos prisioneiros” está na essência do problema, pelo menos se acreditarmos que os indivíduos sejam auto-interessados. O dilema dos prisioneiros é uma situação em que, independente de a outra pessoa se comportar “bem” ou “mal” em relação a mim, eu sempre ganho se me comportar “mal”. Isso dá incentivo para que todos se comportem mal e o resultado final é uma situação de perda generalizada. Dado que os danos causados pelas minhas emissões pessoais são diluídos entre bilhões de pessoas, enquanto os benefícios de minhas emissões são apropriados somente por mim, não faz sentido para mim parar de emitir. Isso continua a valer independentemente do resto do mundo decidir continuar emitindo ou resolver parar. Infelizmente, essa lógica funciona tanto para o nível individual, como para o nível nacional, em que cada país ganha com suas próprias emissões mas perde devido a emissões de outros países. Isso arrasta a humanidade para um jogo “bom para um, ruim para todos”, em que todos perdem no final.

O mundo já viu cooperação internacional em larga escala antes. A expansão marítima, o desenvolvimento da infraestrutura da internet, o projeto genoma, todos esses exemplos envolveram uma grande parcela de cooperação, principalmente porque países individuais não possuíam todos os recursos (conhecimento e capital) para realizar esses empreendimentos sozinhos. Esses exemplos históricos ilustram casos em que o risco para nações individuais foi reduzido e, talvez mais importante, são casos de cooperação em que o objetivo foi repartir ganhos políticos e econômicos. Com a questão do clima, ao menos nas próximas décadas, as dificuldades residem no fato das nações terem que cooperar para dividir perdas. Além disso, com o problema da mudança climática comparado com os outros exemplos, os ganhos de meus investimentos em mitigação são apenas parcialmente revertidos para mim.

Há circunstâncias em que a lógica do dilema dos prisioneiros pode ser evitada e o principal caso é quando a situação se repete várias vezes (em teoria, infinitas vezes). Nesse caso os ganhos obtidos por meio de um acordo de não-emissões podem ser materializados caso todos os indivíduos/países antecipem que os seus ganhos, por meio de um acordo, superem os custos individuais. Infelizmente existe um segundo obstáculo para que isso funcione. Já que estamos falando de nações soberanas, qualquer acordo é somente sólido enquanto os países pensarem que estão ganhando. Portanto, se um país julgar que no curto prazo os ganhos de não obedecer o acordo superam os custos de longo prazo de eventuais punições ou fracasso do acordo, a cooperação não se manterá. Por isso, a noção subjetiva de preferência temporal de cada país, ou, em outras palavras, o quão impacientes eles são, tem que ser tal que eles valorizem os ganhos futuros suficientemente (relativo aos ganhos hoje). Esse tipo de valoração de futuras gerações é portanto o segundo obstáculo a ser vencido.

Além dos dois problemas mencionados, há um terceiro: os que emitem mais hoje (Estados Unidos, Europa, Rússia, China) não são os que serão atingidos de maneira mais severa amanhã (África, Sul do Pacífico, Sul da Ásia). Portanto também existe um aspecto geográfico norte-sul, onde os países ricos têm que se preocupar suficientemente com o que ocorre nos países pobres. Isso poderia ocorrer tanto via solidariedade ou, de forma mais crível, devido a efeitos indiretos caso redução de mercados, guerras ou fluxos migratórios sensibilizem os países ricos.

Esses três fatores - o dilema dos prisioneiros, impaciência e a desproporção entre causadores e vítimas, diríamos, são os principais motivos que promovem a falta de interesse em se fazer algo contra o problema. Isso está baseado na suposição de que a maior parte das pessoas e países são auto-interessados, mesmo que parcialmente, e dessa forma não cooperam no que seria uma solução igualitárias a nível nacional ou internacional.

Agora, claro, mesmo se a vontade para se fazer algo estivesse presente, o problema não seria de simples resolução. Atividades como o uso de combustíveis fósseis, consumo de carne e desflorestamento são partes fundamentais em todos os sistemas socioeconômicos presentes no mundo hoje. Resolvidos o problemas anteriores, nós precisamos mudar nosso sistema ou a maneira como agimos dentro dele. Mas para um bom começo, vamos torcer para que os participantes em Copenhague consigam dar um passo na direção contrária à lógica negativa aqui apresentada.


Nota do Editor: Daniel Spiro e Henrique Pacini são estudantes PhD da Stockholm University.

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