Naqueles dias, Antônia demonstrava uma certa inquietação. Era uma mulher lúcida, mas não sabia exatamente o que fazer de sua vida: havia um misto de insatisfação e conflito em seu íntimo. Vez ou outra perdia o viço, a espontaneidade: características que compunham os fragmentos daquela mulher tão rara. Ela parecia deslocada, talvez atemporal, arrisco a dizer. Um pouco antiquada para sua idade. Muito reflexiva, às vezes quieta, distante. Não é o momento mais adequado para decisões. É tempo de espera, de observação, cautela. Antônia se debate, se desconstrói, sangra. Tudo isso sem uma palavra, em absoluto silêncio. Por fora, uma tranquilidade morna. Por dentro, brasa, erupção. Está pensativa, ali, no canto da sala. Sossegue, Antônia. Dê as mãos a seu destino, não fuja. Você, tão sublime, não gaste seus dias com mesquinharias. Deixe que aqueles ocos se arrastem enquanto tentam, em vão, segurar os parcos pedaços que ainda restam.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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