Repensar os modelos de deslocamento individual é essencial para evitar impacto social, econômico e ambiental nas grandes cidades
As discussões sobre a questão da mobilidade vêm tomando maior destaque nos últimos anos em diversos setores da sociedade. Por isso, é importante diferenciar mobilidade urbana de mobilidade sustentável. A primeira discute os meios de transportes e a ocupação do solo; a segunda trata de encontrar um modelo onde os deslocamentos individuais tenham o menor impacto social, econômico e ambiental possível dentro da cidade. Enquanto reavalia-se o melhor modelo de deslocamento individual nas metrópoles de todo o mundo, os governos estimulam a construção de carros menos poluentes e a isenção de taxas para compra e venda de veículos novos. O problema é que, se não forem realizados novos projetos de gerenciamento de mobilidade sustentável, estes incentivos vão agravar ainda mais o caos do trânsito nas metrópoles. Outra questão é o quanto de energia os carros elétricos demandam. A matriz energética brasileira não é 100% limpa: uma parte da energia ainda é gerada por termoelétricas, que poluem muito, e a tendência é aumentar. Se nos próximos vinte anos a economia mundial continuar crescendo nos moldes atuais, teremos milhões de pessoas migrando de classe social. Supondo que 10% consigam comprar um carro elétrico, com incentivos do governo, quanto de energia será gerada para atender esta nova demanda, caso as montadoras optem por modelos que necessitam serem carregados integralmente na rede elétrica comum? Com a redução do IPI dos automóveis, muitas pessoas tiveram acesso ao primeiro carro zero quilômetro. Embora seja uma conquista notável, este fato vai impactar no crescimento dos congestionamentos. Quanto melhor vai a economia, maior será a demanda de transportes e maior serão os impactos sociais, econômicos e ambientais. É preciso trabalhar a mobilidade sustentável agora, criar sistemas que gerenciam este contingente e oferecer meios alternativos de transporte que não onerem as cidades. É errôneo pensar que mobilidade é um problema exclusivo do setor de transportes. Trata-se de um processo transversal, que começa na geração de uma matriz energética e passa pelo processo produtivo dos veículos, incentivos governamentais, decisões políticas, leis de trânsito, infraestrutura, empresas, população, economia, saúde pública, meio ambiente e modos de transporte público e privado, além do motorista. É importante termos um diesel com menor taxa de enxofre, gasolina abaixo de 1g/km de CO2, carros elétricos, melhores transportes públicos, ciclovias, interconexões modais, restrições de veículos na cidade, rodízio, pedágio urbano e toda sorte de leis que diminuam os deslocamentos individuais. Mas nada mudará se não ampliarmos o nosso conceito de Mobilidade Sustentável. Nota do Editor: Lincoln Paiva, 40 anos, ambientalista, formado em Comunicação Social, sócio da Believe Sustainability, idealizador do projeto MelhorAr de Mobilidade Sustentável e membro da Cities-for-Mobility.
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