Hoje resolvi escrever fora de casa. Como a temperatura está alta, decidi me acomodar em um pequeno bistrô. Enquanto bebo um suco de laranja, observo. Uma moça entrou com olhar distante, a cabeça baixa. Colocou os óculos de grau, tirou alguns papéis da bolsa e passou a estudar com atenção. Dedicada, tenho certeza. E exausta também. Em frente à mesa onde estou, nove adultos jovens discutem a respeito da possibilidade de existir um lugar ideal para que se encontre alguém especial, um parceiro com quem seja possível compartilhar as alegrias e percalços da vida. Ou seja: engatar um namoro, noivado, casamento, afetos e afins. A moça ruiva defendia a idéia de que em balada não se encontra alguém que possa ser levado a sério. No máximo uma noite ou mais alguns encontros casuais. Diversão, algumas emoções como uma espécie de bônus e pronto. O indivíduo era consumido e devidamente liberado. Um rapaz disse, em outras palavras, que bom mesmo seria conhecer alguém através de amigos, familiares - uma espécie de networking dos relacionamentos afetivos - já que seria mais fácil checar as referências, passado antigo e recente, incluindo uma relação de ex-namorados e “rolos”, se bebe, se fuma, se é barraqueira ou quase santa, trabalhadeira ou enrolada, se está mais para bossa que para samba, se utiliza comprimido tarja preta ou medita para acalmar os ânimos... se é híbrida, sei lá. Temos que levar em conta que seres humanos nunca são uma coisa só, embora algumas características sejam predominantes, claro. Gente, não existe local adequado para trombar com a tampa da panela, com a metade da laranja. Definitivamente. Conheço um casal que foi apresentado em um velório e vive feliz faz um bom tempo. Uma conhecida conheceu o atual marido, pai de suas duas filhas, em um ponto de ônibus, em um dia chuvoso, num bairro distante do que ela morava na época. Uma querida amiga conheceu o marido em sua festa de formatura, são casados e vivem muitíssimo bem, obrigada. Há quem encontre no bar, na igreja, na praia, na praça, na faculdade, na feira, em festa junina, na aula de yôga, no forrobodó, no barco, no avião, no extremo Norte da Coréia do Sul. Na internet, em suas individualidades. E até em casa, com alguém batendo em sua porta por engano. Ah, vá saber! “Acontece quando tem que acontecer”, é o que dizem.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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