O sobrado amarelo era uma espécie de refúgio. Ficava entre as montanhas, próximo a um pequeno rio, e harmonia ali não faltava. Quase não havia contratempos. No máximo as crianças que disputavam mais um pedaço de broa ou não concordavam com os horários das brincadeiras cessarem: sempre cedo demais para quem não tinha compromisso, agenda. Aquele mês de julho não deveria ter acabado... Em um forno antigo e desativado, uma gata foi descoberta com seus filhotes. Todos ficaram surpresos e encantados com a novidade. A menina adorava tudo o que acontecia na antiga fazenda. Dava voltas ao redor da casa e era perseguida por um par de gansos que um dia a atacaram e bicaram sua canela. Adorava os animais. Traz a marca até hoje. O almoço era cedo, diferente da cidade. Dez e meia da manhã e o angu com couve, arroz e feijão estavam na mesa. Ela preferia tomar café bem preto e saia correndo pelo quintal. Mais um dia de descobertas. Explorando o pomar, encontrou uma árvore bonita e acolhedora. Era o pé de carambola que ficava mais distante, no fim do terreno. Ela ficava horas lá, sozinha, ninguém a perturbava. Lia os livros da escola que sempre levava para os momentos de quietude. Lá pelas tantas alguém sentia sua falta, chamava e ela retornava. O corpo, porque a alma ficava lá, colada ao tronco da árvore que sustentava seus sonhos. Hoje em dia, quando observo os dias me pressionando e o tempo devorando minhas mais nobres fantasias, sinto falta mesmo é daquele doce pé de carambola que ainda deve estar lá, esperando por mim.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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