Um domingo com sol tímido, após uma noite alegre de sábado, com direito a reunião na casa de amigos, bolinho de bacalhau, muita conversa, risos, descontração. A família reunida para o almoço farto, com direito a tutu, nhoque, mousse de morango de sobremesa e aquela leveza dos que estão satisfeitos e gratos por mais um dia de mesa farta e união. A ambição é apenas em relação ao cafezinho que já, já, virá lá da cozinha. A tarde vem chegado, vejo a criança alva de cabelos negros e cacheados deslumbrada com as bolinhas de sabão que a mãe faz. Misturamos sabão em pó na caneca branca, muito antiga e sopramos através do canudinho que acabaram de fazer com a folha do pé de mamão. Enquanto as bolinhas tomavam forma e eram estouradas, eu me perguntava o motivo de ter passado mais de vinte anos sem fazer algo tão simples e lúdico. Inacreditável! Não podemos deixar as responsabilidades e tensões da vida adulta nos massacrarem. É preciso criar espaço para a brincadeira. Isso sim, é muito sério. O pessoal continua alegre e reunido, falam alto, pedem um biscoitinho de goiaba para a menina que é o centro das atenções, a mexerica para ajudar a fazer a digestão. Pedem também que a gente deite um pouco ali no quarto da frente para descansar um pouco, afinal o dia foi muito puxado e precisamos repor as energias. Como a vida é surpreendente: um dia entramos em erupção, não nos aguentamos de tanta preocupação e no outro ela nos sorri e nos presenteia com as coisas mais simples do mundo, que para mim são as melhores e fundamentais. Nunca sabemos o que nos aguarda, por isso continuamos, curiosos pelo próximo dia. Nada é estável, nada é para sempre, nada é tão importante e tudo pode nos surpreender no próximo minuto.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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