Faz tempo que ando incomodada com algumas classificações a respeito da personalidade humana. Eu mesma já estive muito condicionada a isso e hoje percebo que muitas divisões existem para que haja um tratamento mais preciso no caso de haver algum problema a ser tratado. Fora isso, considero o ser humano rico em sua multiplicidade e não acredito em alguém que seja “uma coisa só”, apesar de saber que alguns traços de personalidade predominam, claro. É justamente pela variedade que uma pessoa não torna-se empobrecida, monocromática, previsível de causar sonolência. Eu sou um bom exemplo do quanto uma pessoa pode ter características variadas, que parecem antagônicas. Sempre fui extremamente extrovertida e comunicativa. Amo encontrar os amigos e conhecidos, badalar, rir, me divertir. Quando saio do meu prédio bato um papo rápido com o porteiro, cumprimento os vizinhos, paro com um e com outro. Desço a rua e encontro sempre mais gente e falo, continuo conversando. Adoro falar sozinha e não vejo mal algum nisso. Enfim, o diálogo me traz um enorme prazer. Em contrapartida, sou uma das pessoas mais introspectivas que conheço. Preciso de momentos em que possa estar totalmente integrada com minha essência. Amo estar só. Minha alma é solitária. Compartilhar é algo extraordinário. Estar em companhia de pessoas queridas é incrível. Só que nesse exato momento estou me sentindo inteira, em casa, sozinha... É sábado à noite. Resolvi ler um livro que me aguardava na estante havia tempos: “Uma Vida Inventada – Memórias trocadas e Outras Histórias”, da Maitê Proença. Ótimo, rico, inteligente. Não consigo parar. Tem muita profundidade, estou amando cada detalhe, cada página. Só alguém que busca autoconhecimento poderia escrever de forma tão natural. Suas frases me capturam, a identificação foi imediata. Acho que meus dois lados que parecem opostos se completam e formam a base do que sou. Deve ser assim que funciona. Para não perder o elo com o mundo nos momentos em que me transformo em uma ostra lacrada, procuro escrever mais, me expressar, externar o que passa em meu universo. Vou revirando minhas entranhas para encontrar os pontos nevrálgicos. Não se trata de doença, não é necessário medicação. Para as questões de temperamento ainda não encontraram pílula eficaz. Opto por respeitar quem sou, buscar energia em meu íntimo. Energia para enfrentar esse mundo caótico e extraordinário.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
|