Estou aceitando as pequenas fatias de felicidade que a vida me oferece. Não pretendo devorá-las ansiosamente, sem saboreá-las e fazendo com que se esgotem rapidamente. Prefiro absorvê-las aos poucos, consciente de que nem sempre elas estarão ao meu alcance, ou pelo menos não da forma como imagino. A mente cria inúmeras fantasias em torno desse tema e as frustrações são proporcionais a todas as fantasias que alimentamos. Só se frustra quem se ilude, então opto por criar menos expectativas, sonhar mas sem perder o senso prático, viver sem tantos desejos, porque eles não cessam e criam uma sensação de permanente insatisfação. Viver cada dia como se fosse o último não é uma postura pessimista. Já que a finitude é a única certeza que temos, seria interessante prestar mais atenção às nossas atitudes. Sei que é difícil, porque vamos levando no automático, mas é fato que um belo dia não estaremos mais aqui. Um primo faleceu semana passada. Do nada, assim, sem que ninguém esperasse. Estava bem de saúde, creio eu, cheio de vida. Devia ter planos para o futuro, como é normal que se tenha. Infelizmente, foi atropelado e não resistiu. Eu o encontrei casualmente na rua dois meses antes, aproximadamente. Conversamos por breves minutos, foi a última vez que o vi. Que bom que fui cordial, gentil. É bom deixarmos boas impressões pelo caminho. Por isso é que insisto nas fatias. Nos pequenos nacos de alegria mescladas com algumas decepções recheadas de sentimentos contraditórios, creio que tudo fica mais leve para ser digerido e não nos empaturramos, nem com as conquistas, nem com as perdas.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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