Toda prosa era o que havia. De resto, nada concreto, estável, seguro. Palavras soltas, letras que voavam sem rumo, frases formadas e proferidas através dos lábios ora ternos, ora atordoados. Sentimentos paradoxais, conflitos arquivados na memória, despejados em ritmo acelerado. Com tamanha confusão, a prosa que antes fluía com naturalidade, estava com dificuldade para retomar seu fluxo. Ela se esquivava, olhava pelas frestas, mas não tinha coragem de retornar. Sentia medo, que paralisa e engessa. Enquanto prosa, deslizava, era muito contente. Nada de desagrados, lamúrias, perturbações. Alegre, objetiva, intensa, franca, honesta. Atuante, expressiva, audaciosa. Toda prosa é para dizer o que há de mais profundo. Para compartilhar, sentir que faz parte, que participa do mundo de alguma forma. É a construção de algo para permanecer, não passar em branco. Na falta de versos, vou em prosa. Gosto do texto que corre, escorre, que às vezes me escapa, me revela e assusta em certas horas. Sempre fui, sou, ainda que em meio a lacunas, percalços, desafios, aquela que escreve e fala, e sempre será toda prosa.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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