Há alguns meses atrás, uma de minhas amigas lançou a seguinte frase, que foi dita por um psiquiatra. “Chega um dia na vida de todo o ser humano em que ele encontra consigo mesmo. Esse pode ser o melhor ou o pior dia de sua existência.” Quando ouvi essa afirmação fiquei pensativa, tentando avaliar se tal dia já havia chegado para mim. Claro que não. Certamente me lembraria desse momento como um divisor de águas, uma passagem para um estilo de vida diverso do que estava adotando até então. No início da semana sofri uma forte turbulência em meu cotidiano que realizou tal encontro. O episódio não foi agradável, mas a reorganização interna foi válida e não posso dizer que esteja descontente com quem sou. Percebi que a pluralidade na unidade é mais real do que supomos. A mistura de sentimentos bons e maus é o que nos faz humanos. Saber administrá-los e trazer o melhor à tona é questão de sabedoria, que adquirimos com muita reflexão, paciência, e claro, com o tempo, que ajuda quando existe um esforço real em relação ao crescimento pessoal. Percebi que tudo está em seu devido lugar. Não é questão de concordar plenamente com os fatos, ou não movimentar-se para promover mudanças que urgem. A lucidez que chega é tanta, que os véus da fantasia que utilizamos para nos esquivarmos do que não conseguimos lidar são retirados de uma só vez e não há escapatória. É pegar ou largar. Eu optei por agarrar com todas as forças. Não tenho como ter certeza se todos de fato irão encontrar-se. Tomara que o psiquiatra esteja certo. Existe um preconceito grande em torno da saúde mental. Falar em psiquiatria com algumas pessoas é ser taxado de desequilibrado, insano. O tema remete aos sanatórios, às camisas de força, aos eletrochoques. O que as pessoas deveriam saber é que tudo evoluiu muito e procurar ajuda quando necessário é uma atitude pra lá de inteligente e sensata. O mesmo é valido para o processo terapêutico. Em uma segunda-feira pálida fui apresentada a mim. Poucas horas depois, encontrei com um homem idoso que ainda tem aproximadamente cinco anos de idade. É uma criança emocional. Existe o mínimo de consciência e uma enorme carência encapada pela arrogância. Pensei em seu futuro, na ausência de discernimento, em seu intelecto equivocado. Uma criatura ausente evidenciou minha presença. Bendita crise que nos faz mudar para melhor.
Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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