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COLUNISTA
Sayonara Lino
03/06/2009 - 13h16
Controle remoto
 
 

Se eu tivesse um controle remoto que me desse o poder de mudar alguma coisa no mundo, por um dia que fosse, ampliaria a percepção das pessoas em relação ao tempo do outro. Sim, porque a falta de noção e respeito em relação ao momento de cada um são capazes de gerar conflitos.

Existem criaturas muito rápidas, que acompanham o ritmo do que acontece ao redor. São uma espécie de canal de TV All News: antenadas, atualizadas, absorvem e transmitem tudo com rapidez e facilidade, são muito bem informadas e dão conta do recado. Bacana, admiro e aplaudo. Existem outras que se parecem muito com os canais de TV voltados à educação e à cultura, com uma programação mais leve, menos corrida, mais reflexiva e, em alguns casos, repetitiva. Elas gostam de reprise. Pois então, existem pessoas com esse ritmo. Existe de tudo, por sinal.

Quando os frenéticos encontram os contemplativos, costuma dar problema, o que requer ajuste e manutenção. Não há nada de errado nem com um, nem com o outro. Apenas não há sintonia, a frequência é diferente.

Se um ser do tipo contemplativo leva um baque, costuma ficar fora do ar por uns tempos, ou cheio de chuviscos que atrapalham a comunicação. Ele pode continuar levando sua vida, não precisa necessariamente desaparecer por completo. Talvez fique um pouco mais lento que o habitual, redundante, menos criativo, mais complexo. Isso pode durar um bocado, não existe previsão. Um dia tudo passa e ele volta com a programação renovada, normalmente até mais elaborada e interessante do que antes.

O ultra ligado, se levar o mesmo baque ou similar, costuma dar a notícia em alto e bom som e partir para outra, novidade é o que não falta, tudo é ágil e não dá para parar. A fila voa. Um acontecimento engata no outro e quem sabe, no fim do ano, ele elabore uma retrospectiva dos momentos mais importantes. Ou não. Tem gente que passa por cima mesmo. Desencana com facilidade. Devem sofrer menos. Quem dera.

Cada um, com suas características, poderia, se não for possível apreciar, pelo menos respeitar o formato alheio. Atazanar alguém apenas porque funciona de forma distinta é um atraso de vida e, definitivamente, não dá Ibope. Telespectador insatisfeito tem a opção de mudar de canal.


Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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