26/11/2024  23h44
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
COLUNISTA
Sayonara Lino
01/06/2009 - 17h10
Café
 
 

De vez em quando passeio pelo bairro onde moro e tomo um café na padaria da esquina. Hoje, domingo, havia uma atendente muito ríspida. Eu havia observado seu comportamento anteriormente e imaginei que sua vida deveria ser difícil. Um garotinho de uns nove anos entrou e perguntou quanto custava o pão com manteiga. Ela respondeu mal por ele ter falado alguma coisa de forma errada. E o corrigiu de maneira brusca.

Olhei para ele e senti muita compaixão, que é melhor que pena. Tão novo, jogado nas ruas e ainda maltratado pelo azedume da moça insatisfeita. Perguntei o que ele queria beber. Foi até a geladeira, pegou o refrigerante, agradeceu e lanchou.

Puxei assunto com a moça, comentei que acho uma judiação uma criança tão novinha nas ruas, passando por privações. Ela fez que sim com a cabeça e falou de sua dura rotina. Eu a escutei atentamente e compreendi a situação, o que a deixava tensa, ácida, triste. Saía de casa muito cedo, ficava pouco com a filha e seus horários não se encaixavam com os do marido, que também trabalhava muito.

A partir desse acontecimento simples, elaborei uma série de questões, que, por sinal, sinalizo faz tempo. Eu e muitas outras pessoas. O ser humano anda muito carente de alguém que o ouça sem julgamentos, de apoio, de atenção, de reconhecimento, de amor. Somado a isso, ainda existem, com muita frequência, as dificuldades financeiras geradas pelo desemprego ou baixa remuneração que criam mais atritos entre os familiares, prejudicam a auto-estima, trazem angústia e sensação de inadequação. Tem que ter a cabeça no lugar para dar conta do recado. Poucas pessoas tem sabedoria para lidar com a falta. Na abundância a vida flui, na carência é que somos testados. Haja equilíbrio.

Na verdade, escrevi sobre isso porque percebi que com gestos simples podemos fazer a vida de alguém um pouco melhor. Nem que seja por um momento. Que outros problemas surjam, paciência. Não sei o que será da vida do menino nem da moça da padaria. Mas hoje, ele não comeu pão a seco. Fiz questão que ele bebesse algo. Não é bacana contar o bem que praticamos, mas meu intuito é incentivar a solidariedade. E pelo menos hoje alguém ouviu aquela moça bonita e melancólica, que as pessoas às vezes nem enxergam, porque menosprezam seu trabalho simples e útil. Já trabalhei em balcão e atendi pessoas exigentes e rudes, que não sabem o valor de um “bom dia”, “muito obrigada”, “até logo”.

Um mundo mais agradável e menos violento só existirá a partir da mudança de comportamento: menos egoísmo, mais respeito ao próximo, flexibilidade, tolerância, doação. Caso contrário, sinto informar, nossos cafés irão ralear e virão sem açúcar, com pouco ou nenhum afeto.


Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CRÔNICAS"Índice das publicações sobre "CRÔNICAS"
31/12/2022 - 07h23 Enfim, `Arteado´!
30/12/2022 - 05h37 É pracabá
29/12/2022 - 06h33 Onde nascem os meus monstros
28/12/2022 - 06h39 Um Natal adulto
27/12/2022 - 07h36 Holy Night
26/12/2022 - 07h44 A vitória da Argentina
ÚLTIMAS DA COLUNA "SAYONARA LINO"Índice da coluna "Sayonara Lino"
21/09/2013 - 10h01 Sobre não entender
30/08/2013 - 09h01 Lições de vida
19/07/2013 - 15h00 Há tempo
08/07/2013 - 15h00 Falta
28/06/2013 - 15h00 Maquiagem
17/06/2013 - 15h37 Pedaços
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.