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COLUNISTA
Sayonara Lino
29/05/2009 - 15h00
Entrelinhas
 
 

Hoje estava pensando a respeito do que poderia escrever. Desenvolver um texto, mesmo coeso, nem sempre é fácil. Parei para ler meus textos anteriores, analisei, notei um certo amadurecimento, o começo foi bem estranho. É, tarefa árdua, essa.

O mais difícil é tentar agradar. Alguns não entendem muito bem, outros consideram amargas as palavras, e há quem observe leveza em cada frase. É claro que tudo isso depende muito da interpretação, do estado de espírito de quem lê.

Alguns instantes atrás eu estava comentando com um amigo que é difícil ler nas entrelinhas. Ele, com seu tom espontâneo, devolveu: “Gata, as pessoas às vezes não conseguem ler nem nas linhas.” Pois é, amigo, isso acontece.

Tenho plena convicção que escrevo com muita, mas muita sinceridade. E para o bom observador, sempre haverá esperança em tudo o que escrevo, sempre haverá alento. Se eu fosse ou estivesse rançosa e desesperada, desistiria da escrita. De desânimo o mundo está cheio. Se não pudesse acrescentar, não prosseguiria.

É claro que há dias de maior melancolia, então os textos refletem tal sentimento. Mas tudo muda a todo instante, e vou junto com os dias, com as novidades, com as estações, com as transformações.

Aprecio quem escreve belas crônicas com suavidade, com delicadeza, sem cair no lugar-comum. O mineiro Rubem Alves faz isso com maestria. Adoro seus textos, tenho vários livros que leio e releio. Um de meus preferidos tem um título que adoro: “Ostra feliz não faz pérola”. Não sei se as pessoas me compreendem, mas acredito que o Rubem Alves me entenderia, por sua sabedoria e sensibilidade.

"(...) A ostra, para fazer pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faça sofrer. Sofrendo, a ostra diz para si mesma: Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas... Ostras felizes não fazem pérolas... Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade..."


Nota do Editor: Sayonara Lino é jornalista, com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora e atualmente finaliza nova especialização em Televisão, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. É colunista do Literário e também do Sorocult.com.
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